Em 12 de agosto de 1983, Margarida Maria Alves, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, foi assassinada na porta de sua casa. Por denunciar abusos e desrespeito aos direitos das trabalhadoras e trabalhadores rurais, a dirigente sindical pagou com a vida, mas como tantos outros lutadores, virou semente. Assim, desde o ano 2000, a cada quatro anos, milhares de mulheres do campo, da floresta e das comunidades ribeirinhas tomam as ruas de Brasília para continuar essa luta. Os 20 anos da Marcha das Margaridas, no entanto, será marcado por um ato comemorativo virtual. As redes sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) transmitem o evento a partir das 14h desta quarta (12).
“Ao mesmo tempo que a gente celebra essa luta, essa resistência, essa persistência, as conquistas das mulheres do campo, da floresta e das águas, a gente olha que no nosso Brasil se registra mais de 100 mil mortes causadas pela pandemia. Isso nos deixa tristes, preocupadas com nosso país, solidárias”, diz a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais.
Governo negacionista
Coordenadora-geral da 6ª Marcha das Margaridas, que em 2019 reuniu mais de 100 mil mulheres na capital federal, Mazé lamenta a situação em que o Brasil está mergulhado, “com um governo que não se preocupa com a saúde da nossa sociedade, que nega os direitos da classe trabalhadora, machista, racista, negacionista”. Mas avisa: a luta continua. “Pra gente é um momento muito desafiador e as Margaridas continuam na luta, continuam em movimento. Apesar da pandemia, continuamos honrando a memória de Margarida Alves. Nos inspirando naquilo que ela sempre colocou pra gente, que é melhor morrer na luta que morrer de fome. Seguiremos em marcha até que todas nós sejamos livres.”
A dirigente relata que o adoecimento pela covid-19 tem chegado de forma mais forte à população do campo, da floresta e das regiões ribeirinhas. “Tem saído das grandes capitais, indo para os pequenos municípios e automaticamente chegando aos nossos territórios, às nossas comunidades indígenas, quilombolas, nos assentamentos, nos mais diversos locais onde a gente mora”, lamenta. “E isso nos preocupa muito diante da dificuldade de acesso à saúde pública. Quem vive no campo sofre muito mais com as dificuldades dessa falta de atenção básica para essa população que está em situação de vulnerabilidade social mais drástica. Ainda mais em um governo que não está nem aí para a população, sobretudo com os agricultores e agricultoras familiares.