Depois de autorizada pelo presidente Lula a retirada de cidadãos brasileiros do Líbano, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) se movimenta para executar a operação de resgate no país, atualmente sob fogo cerrado de Israel. A FAB designou o KC-30 para efetuar o resgate, o mesmo avião que repatriou os brasileiros que estavam na Faixa da Gaza. Ele partiu na noite dessa terça-feira (1º/10), da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a Beirute, capital do Líbano. Fazem parte da tripulação militares da área da saúde, como médicos, enfermeiros e psicólogos.
Israel deu início, na noite de segunda-feira (30), a uma incursão militar terrestre no país árabe ao norte de suas fronteiras para confrontar o grupo armado Hezbollah. Condenada inclusive pelo Papa Francisco, a expansão da guerra no Oriente Médio preocupa o governo federal pela quantidade de brasileiros na região. Fontes do Itamaraty afirmam, segundo o G1, que quase 3 mil brasileiros querem sair do país.
“Já estão mapeados todos. A colônia brasileira tem contato permanente com a embaixada. E já estamos com uma lista que estamos preparando e faremos, em breve, um primeiro voo para repatriar. Essa operação está sendo realizada, em conjunto, pelo Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa, com a participação, obviamente, da Força Aérea Brasileira”, esclareceu Vieira, em entrevista à TV Globo.
Leia mais: Lula define reforma da ONU como fundamental para a paz no mundo
A invasão por terra ao Líbano constitui nova etapa da sangrenta guerra levada a cabo pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, contra o Hezbollah. Nas duas semanas anteriores, as Forças de Defesa de Israel (IDF, sigla em inglês) prepararam o terreno para a incursão militar ao explodirem pagers e walkie-talkies pertencentes a militantes do grupo armado e ao eliminarem, em Beirute, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyid Hassan Nasrallah, que era admirado por muçulmanos xiitas em todo o Oriente Médio.
O lado da paz
O Papa Francisco condenou a ofensiva israelense contra o Líbano e tachou as condutas de Netanyahu de “imorais”. “O uso desproporcional de força é imoral”, censurou o pontífice, falando a jornalistas. No mesmo tom, durante encontro empresarial no México, o presidente Lula afirmou que o primeiro-ministro de Israel está “atacando e matando pessoas inocentes” no Líbano e chamou de “chacina” o que ocorre na Faixa de Gaza.
“A guerra é a prova da incapacidade civilizatória de um cidadão que acha que pode, na explicação de ter que se vingar de um ataque, fazer matança desnecessária com pessoas que não têm como se defender”, lamentou Lula, em discurso a empresários, na Cidade do México.
Por meio das redes sociais, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), alertou para a índole violenta e sectária da extrema direita. “Papa Francisco condena o novo massacre de civis inocentes, agora no Líbano, perpetrado pelo governo de Netanyahu, chamando a atenção para a violência dos ataques. Para seguir no poder em Israel, a extrema direita ameaça o mundo com uma guerra total”, denunciou Gleisi.
Resgate complexo
Ao jornal O Globo, nesta terça (1), o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim (PT), disse que a guerra de Israel não é contra o Hezbollah, mas contra todo o Líbano, e reconheceu a necessidade de repatriar cidadãos dadas as dimensões da comunidade brasileira.
“Não há dúvida de que precisamos retirar os brasileiros que queiram sair. A guerra não é contra o Hezbollah, é contra o Líbano todo, então, obviamente, os brasileiros estão sendo atingidos”, definiu.
Leia mais: Lula: “Não podemos esperar outra tragédia para construir uma nova governança global”
Amorim liderou operação semelhante, quando era ministro das Relações Exteriores, durante a Guerra do Líbano de 2006, o último conflito entre Israel e o Hezbollah. O ex-chanceler ressaltou a complexidade do resgate, à época. O governo federal contou com o suporte de empresas aéreas para repatriar 3 mil pessoas.
“Muitos brasileiros estão vivendo no Vale do Bekaa. Pela minha experiência da outra guerra, a região é muito atingida”, esclareceu, referindo-se a porções do leste do Líbano.
Guerra total
Em recente entrevista ao podcast The Spectator, John Mearsheimer, professor de ciência política e teórico das Relações Internacionais ligado à Universidade de Chicago, previu um conflito de longa duração entre árabes, israelenses e persas. Mearsheimer descartou a eliminação do chamado “Eixo da Resistência”, a aliança de muçulmanos xiitas liderada pelo regime do Irã contra o sionismo.
“É concebível que Israel consiga derrotar o Hezbollah no sul do Líbano e empurrá-lo para o norte? Eu acho que é concebível. Mas é provável? Eu acho que a resposta é não. Acho que eles estão entrando no ninho das vespas”, rechaçou o especialista, antes de argumentar que nenhum dos objetivos estabelecidos por Israel, desde o início da guerra contra o Hamas, foi concluído.
“Eles [os israelenses] já tentaram isso e não funcionou muito bem, em 1982. E não há razões para acreditar que vá funcionar agora”, explicou Mearsheimer, ao lembrar da Guerra do Líbano de 1982.
Leia mais: Lula defende Pacto para o Futuro e reforma no Conselho de Segurança da ONU
Com informações do MRE, O Globo, G1, The Spectator