Por maioria dos senadores que apoiam o governo ilegítimo de Michel Temer, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou na manhã desta terça-feira (5) a indicação de cinco nomes, sendo quatro para cargos de diretores do Banco Central e um para a diretoria da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, considerada a autarquia que deveria exercer o papel de xerife do mercado financeiro.
Egressos da banca privada – Bradesco Asset Management, BC Consulting e do Opportunity Asset, banco de Daniel Dantas que foi o pivô da Operação Satiagraha, que desvendou desvio de recursos públicos para campanhas de Fernando Henrique Cardoso, os futuros diretores agradeceram a Michel Temer pela oportunidade.
Henrique Balduíno Machado Moreira, que vai para a CVM – ex-aluno do Instituto de Direito Público (IDP), escola do ministro Gilmar Mendes – o que concedeu um suspeitíssimo habeas corpus num domingo para tirar Daniel Dantas da cadeia -, falou que pretende seguir as regras do mercado e da regulação bancária. Pelo menos Henrique Balduíno exerceu o cargo de procurador do Banco Central sem qualquer suspeição.
Reinaldo Le Grazie, ex-Lloyds Bank, ex-Bradesco Asset Management e vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (ANBIMA), deverá ocupar o cargo de diretor de política monetária. Na audiência, afirmou que um dos pressupostos é buscar o controle da inflação.
Já Tiago Couto Berriel, sócio da Berriel Consultoria em Gestão Empresarial, da BC Consulting Consultoria e ex-analista da Pacífico Gestão de Recursos, falou que um dos objetivos é acompanhar o cenário econômico com comedimento, e o cenário externo também.
Carlos Viana de Carvalho, ex-chefe do Opportunity Asset, sócio da Radix Asset e da Kyros, também gestora de recursos, falou que o Banco Central não deve mudar a rota de sua condução, perseguindo o controle da inflação. Isac Sidney Menezes Ferreira seguiu o mesmo discurso dos colegas.
Após as apresentações feitas, com os indicados de Temer um pouco constrangidos, o líder do Bloco da Minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), observou que nenhum dos futuros controladores do Banco Central falaram em reduzir os juros.
“É interessante notar que os especialistas quando estão fora do Banco Central, cobram redução das taxas de juros e, quando chegam lá, mudam o discurso”, observou. Com os futuros diretores do BC não foi diferente.
Quando deviam responder uma pergunta direta, sobre o que pretendem fazer na política monetária para garantir os juros mais baixos, enrolavam-se nas argumentações usando termos do economês. Mas Lindbergh lembrou que a trama do golpe começou quando, em meados de 2012, a presidenta Dilma ousou em trabalhar para que o “spread” bancário (diferença entre a taxa da aplicação e a taxa cobrada num empréstimo) ficasse em torno de 2%, porque até então a diferença era de mais de 10%.
Os futuros diretores falaram que para reduzir o spread deve-se levar em conta os custos bancários, os riscos embutidos, enfim, não disseram diretamente que esse spread é um componente que impede a queda dos juros, mas aumenta o lucro dos bancos.
Outra coisa apontada por Lindbergh e presente na fala dos futuros diretores do BC é que não sinalizaram nada sobre a queda dos juros. Pior, representantes de fundos de investimentos, nada indica que vão trabalhar duro para baixar os juros dos títulos públicos, porque vai contra a corrente dos rentistas, que querem cada vez mais juros elevados. Isso causa desemprego na indústria, porque entre produzir e especular, a taxa de juro atual é mais vantajosa.
Lindbergh também apontou que a atual direção do BC está deixando o dólar cair de maneira superficial, para atender a política entreguista de Michel Temer. A queda da cotação do dólar prejudica o setor exportador e abre as portas para a importação e a desindustrialização, e com o efeito de desempregar mais. Além disso, o dólar mais baixo atende o pleito dos batedores de panela que manifestaram nas mídias sociais que deveriam tirar Dilma para o dólar cair e eles poderem viajar com maior frequência à Miami.
Esse é o retrato do novo Banco Central do governo ilegítimo de Michel Temer. O presidente é sócio do Itaú, um futuro diretor, do Bradesco. E assim, quem vai acreditar que o juro cairá, já que os títulos públicos que garantem ganhos para os rentistas continuarão com taxas elevadas, limitando as linhas de crédito para os pequenos e dando créditos para os grandes empresários.
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