A bancada do PT no Senado expressou um misto de alívio e desconfiança após a demissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na tarde desta quarta (23). “A saída de Salles demorou até demais diante de tantos escândalos. É preciso ter seriedade e competência na pasta do Meio Ambiente, algo que o agora ex-ministro jamais teve”, afirmou o líder, senador Paulo Rocha (PA).
Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), não basta mudar um nome, mas a postura de governo. “[A demissão] é só um passo. O importante é saber se será uma mudança somente de nome ou de postura do governo federal diante do Meio Ambiente. O que realmente precisa mudar é a orientação do presidente. Sobre o ex-ministro, já não era sem tempo, por todos os males ao Brasil que ele conduziu”, disse.
Já o líder da Minoria, Jean Paul Prates (PT-RN), advertiu para a estratégia diversionista do governo federal. “O ministro que queria passar a boiada não deixa saudades. Na pasta do Meio Ambiente ele fez de tudo, menos cuidar do que devia. A demissão ajuda a abafar o escândalo da Covaxin. Tática de Bolsonaro que já está desgastada”, concluiu.
O senador se refere ao escândalo da Covaxin, vacina indiana comprada com superfaturamento de 1.000% num processo envolvendo a intermediação de empresários devedores da União, a interferência direta do presidente da República junto ao governo da Índia e com denúncias de pressão política para que servidores do Ministério da Saúde facilitassem a aprovação do contrato. Dois dos envolvidos depõem nesta sexta (25) na CPI da Covid.
Inquéritos por crimes ambientais
Considerado por muitos o pior ministro da área da história, Ricardo Salles é alvo de duas investigações por crimes ambientais. A primeira veio à tona quando ele tentou interferir na maior apreensão de madeira ilegal da história, colocando-se contra a Polícia Federal e a favor de empresas flagradas em irregularidades. A intervenção de Salles gerou inquérito autorizado pela ministra Cármen Lúcia, do STF.
Na outra, Salles e o presidente do Ibama, Eduardo Bim, juntamente com servidores públicos e empresários do setor madeireiro, são suspeitos de contrabando de madeira. Os indícios levaram a Polícia Federal a deflagrar, em 19 de maio, a Operação Akuanduba, que cumpriu diversos mandados de busca e apreensão, inclusive no Ministério do Meio Ambiente. Diante de tantos sinais de ilegalidades envolvendo o ministro, o PT pediu ao Supremo seu afastamento do cargo. Um de seus últimos atos foi comprar uma mansão milionária em São Paulo.
Para o lugar de Salles foi nomeado Joaquim Álvaro Pereira Leite. Como Leite já atuava no Ministério como secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, há pouca esperança de que a política de devastação do governo Bolsonaro se altere. À frente do Ministério do Meio Ambiente, Salles fez a taxa de desmatamento anual da Amazônia ficar acima dos 10 mil quilômetros quadrados em 2020 e 2021, algo que não ocorria desde 2008.
(Com informações da Agência PT de Notícias)