Alessandro Dantas

Randolfe disse que oposição tenta blindar playboys que lesaram aposentados
A bancada do Governo Lula conseguiu importantes vitórias na Comissão Parlamentar de Inquérito do INSS, nesta quinta-feira (16/10), ao barrar manobra da Oposição para desviar os focos das investigações. Parlamentares da extrema-direita tentaram incluir o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva (Frei Chico), que não ocupava qualquer função administrativa ou financeira em entidades suspeitas, conforme apurações da Polícia Federal e da própria Comissão. Foi derrotada por ampla maioria (20 a 11).
Bolsonaro ignorou esquema que tirou 57 milhões dos aposentados na pandemia
Frei Chico tem 80 anos, nasceu em Caetés (PE) e é o mais velho dos irmãos do presidente Lula. Nos anos 1950, migrou para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Lá, empregou-se como metalúrgico e passou a lutar pela dignidade dos trabalhadores e contra a Ditadura Militar. Foi ele quem introduziu Lula na vida sindical.
Mesmo aposentado, Frei Chico manteve-se na luta pelos direitos humanos, trabalhando pela reparação das vítimas da Ditadura. Desde 2008, é filiado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindinapi). Em 2024, passou a ocupar o cargo de vice-presidente da entidade, posição meramente simbólica. Não movimentou valores e sequer participou de decisões administrativas. Importante frisar: Frei Chico não é investigado pela Polícia Federal, não aparece como alvo direto da investigação nem constava entre os dirigentes com bloqueio pessoal.
Mas ainda assim, a oposição apresentou requerimento para convocá-lo a depor, desperdiçando a oportunidade de aprofundar as apurações que vêm sendo tocadas pela PF e pela Controladoria Geral da União.
“A quem interessava trazer aqui o Frei Chico? Àqueles que querem conturbar as investigações, que não querem que os playboys que fraudaram o INSS venham para cá prestar depoimento. Aí tentam a todo custo envolver o presidente da República na história. Não há uma linha no inquérito, em qualquer coisa, em qualquer investigação que sustente isso”, disse o líder do Governo no Congresso, Randolfe Rodrigues. “Hesitam em convocar presidentes de algumas entidades, mas queriam convocar um dirigente secundário de uma entidade só porque tem uma relação de parentesco com o presidente Lula. Qual é a verdade? O esquema de corrupção começou no governo anterior, está sendo desmontado neste governo”, acrescentou.
Conforme comprovam as investigações da PF, o número de associados do Sindinapi teve crescimento exponencial no governo Bolsonaro e caíram no governo Lula. Aliás, o fenômeno aconteceu com as outras entidades suspeitas, como a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), cujo dirigente, Cícero Marcelino Santos, depôs nesta quinta-feira (16/10).
Um esquema de descontos ilegais operado pela Conafer, que drenou R$ 57 milhões de aposentados durante a pandemia (2019-2022), prosperou sob a gestão do governo Bolsonaro. Denúncias formais sobre os descontos atípicos, que fizeram a arrecadação da entidade saltar, foram feitas por um servidor do INSS em 2020, mas a gestão Bolsonaro ignorou. Embora a Conafer tenha sido suspensa pelo INSS, ela foi reabilitada em apenas três meses por decisões da presidência e diretoria da autarquia.
A investigação aponta que gestores como Leonardo Rolim e José Carlos Oliveira esvaziaram apurações internas, mantendo os repasses fraudulentos. O caso, que só ganhou tração com a Operação Sem Desconto de 2025, na gestão Lula, levanta dúvidas sobre a conivência e a participação de aliados políticos de Bolsonaro na blindagem do esquema.
O comportamento de parlamentares da Oposição justifica as suspeitas. Tentaram, outra vez sem sucesso, impedir a quebra do sigilo bancário do advogado Eli Cohen, suspeito de tentar extorquir investigados na CPMI. Primeiro depoente da CPI, ainda em agosto, Cohen recebeu treinamento do publicitário Duda Lima, que trabalha para o PL. E antes de falar na comissão, esteve com o líder da Oposição, Rogério Marinho.
“A quebra do sigilo de Eli Cohen é importante. Virá muita novidade pelas informações que já temos”, explicou Randolfe.
Enquanto isso, continuam as investigações técnicas da PF e da CGU, que trabalham com autonomia e apoio institucional do governo Lula. E os aposentados, que foram lesados e são os maiores interessados, seguem sendo ressarcidos. Até o momento, cerca de 2,8 milhões se habilitaram a receber, mais de R$ 1,8 bilhão.