As bancadas do PT na Câmara e no Senado prestaram apoio e solidariedade aos curadores de arte Gaudêncio Fidélis e Luiz Camillo Osório, alvos de um mandado de condução coercitiva expedido pela Comissão Parlamentar de Inquérito convocada para investigar maus tratos contra crianças.
Além de um ato de desagravo aos curadores, realizado na manhã da última quinta-feira (23), os parlamentares acompanharam o depoimento de ambos à CPI, na tarde desse mesmo dia. Estiveram presentes Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do partido, Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da bancada no Senado, e Humberto Costa (PT-PE), líder da Oposição na Casa, representaram os senadores, ao lado dos deputados federais Maria do Rosário (RS), Pepe Vargas (RS) e Paulo Pimenta (RS).
Fora do escopo
Gaudêncio, curador da mostra Queermuseum – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, realizada no Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, e Osório, responsável pelo 35º Panorama da Arte Brasileira – Brasil por Multiplicação, cartaz do Museu de Arte Moderna de São Paulo, estavam sendo intimidados por integrantes da chamada “CPI dos Maus-Tratos” que, fugindo ao escopo da comissão, resolveram voltar suas baterias para as artes.
Os senadores Magno Malta (PR), presidente da José Medeiros (PODE) e Ana Amélia (PP) foram ágeis em transformar postagens de redes sociais em requerimentos de convocação, após as exposições com curadoria de Gaudêncio e Osório serem alvo de campanhas difamatória organizadas por grupos fundamentalistas.
Mal informados
Na base do sensacionalismo, da descontextualização e—quando isso não bastava—da mentira, grupos religiosos e de direita passaram a acusar as duas mostras artísticas de “pedofilia”, “ataque à família”, “profanação religiosa”, entre outras “afrontas”, o que determinou a aprovação de convocações para que os curadores viessem se explicar. Aqueles senadores não checaram previamente essas afirmações e, diante do depoimento dos curadores, tiveram candidamente que reconhecer que estavam mal informados.
“O PT faz questão de combater os maus-tratos, a violência sexual, os castigos físicos, a fome e a falta de oportunidades que ameaçam nossas crianças. Esse propósito, porém não pode ser usado para a construção de medidas de exceção, ataques à criação artística e à liberdade de expressão”, ressaltou a senadora Gleisi, que acompanhou Gaudêncio Fidélis em uma entrevista coletiva, antes do depoimento do curador à CPI.
“Imoral é pedir mala de dinheiro”
O senador Humberto Costa, que participou do depoimento dos dois curadores, não escondia sua indignação com o uso de uma comissão parlamentar de inquérito para perseguir a criação artística. “O Brasil está cheio de reacionários sem causa. Gente que vivia no meio da rua batendo lata e panela, e hoje se cala diante da verdadeira vergonha nacional, que é o desmonte de tudo que se construiu no Brasil nesses últimos anos. Esses são imorais, que agridem a infância, agridem a velhice, porque são defensores de uma proposta e um projeto que só têm sacrificado o povo brasileiro”.
O líder da Oposição no Senado lembra que a indecência não está exposições de artes plásticas. “Quer coisa mais imoral do que um presidente da República que manda buscar uma mala de dinheiro?”. Humberto alertou para o avanço da censura no País, a submissão das instituições ao pensamento retrógrado, ao arrepio das leis. “Um juiz que dá uma liminar para suspender uma exposição, porque o motivo alegado é que há pedofilia – e ele nem foi lá para ver que diabo é isso… Isso é censura!”