cpi da covid

Barra Torres desautoriza sabotagens de Bolsonaro

À CPI, presidente da Anvisa discorda da tese de imunidade de rebanho e se disse arrependido por ter participado de aglomeração com Bolsonaro. “Fico feliz de encontrar alguém nesse governo que considera as atitudes do presidente equivocadas”, afirmou Humberto Costa (PT-PE)
Barra Torres desautoriza sabotagens de Bolsonaro

Foto: Roberto Stuckert Filho

O depoimento do presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) Antônio Barra Torres, nesta terça-feira (11), na CPI da Covid, expôs mais uma vez a omissão, o negacionimo e a sabotagem de Jair Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus. Em suas respostas aos senadores, Barra Torres desautorizou Bolsonaro por promover aglomerações, campanhas antivacina e o uso de drogas sem eficácia comprovada, como a cloroquina. O presidente da agência chegou a se dizer arrependido de ter participado, no ano passado, de ato público com Bolsonaro, os dois sem máscara.

Barra Torres reconheceu que o governo não tem uma campanha de conscientização da população sobre a importância da vacinação. “A política de vacinação é essencial, temos que vacinar as pessoas”, afirmou o presidente da Anvisa. “Discordar de vacina, falar contra vacina não guarda uma razoabilidade histórica”.

“Entendemos também que não é o fato de vacinar que [o país] vai abrir mão de máscara, de isolamento social, de álcool gel, não vai acontecer imediatamente”, frisou.

Indagado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) sobre se concorda com a tese da imunidade de rebanho, Barra Torres também se posicionou contra a estratégia defendida por Bolsonaro, segundo a qual, o vírus perderia força depois que pelo menos 70% da população fosse contaminada.

Costa lembrou que, ao promover a tese da imunidade de rebanho, Bolsonaro empurrou a população para o vírus e causou a morte de mais de 420 mil pessoas. “O governo expôs o povo brasileiro à doença e à morte, comentando um crime de dolo eventual porque sabia que poderíamos chegar nisso”, acusou o senador.

Ciência como arma política e aglomerações
O presidente da Anvisa condenou o uso da ciência como arma política por parte de Bolsonaro, que chegou a comemorar uma morte durante a fase três de testes com a Coronavac, em 2020. A vacina estava, então, no centro de uma disputa política entre o governo de São Paulo e o Planalto.

“Mais uma divergência de Vossa Excelência com o presidente da República”, afirmou Costa (PT-PE). “Está mostrada uma cisão dentro da cidadela bolsonarista”, concluiu Humberto Costa.

“Fico feliz em saber que Vossa Excelência tenha se arrependido de ter participado de um ato contra a liberdade e a democracia, o que já era razão suficiente para censurá-lo”, afirmou o senador, sobre a participação de Barra Torres  de evento com Bolsonaro.  “Fico feliz de encontrar alguém nesse governo que considera as atitudes do presidente equivocadas”, disse o senador. Costa lembrou que a promoção de aglomerações representa uma transgressão do Código Penal.

Sputnik V
O senador teceu críticas ao presidente da Anvisa no que diz respeito à análise técnica da vacina Sputnik V, que foi exposta por Barra Torres na comissão. Segundo Humberto Costa, o presidente da Anvisa levantou uma “aura de desconfiança” sobre uma vacina que ainda está sob análise, inclusive com novos documentos apresentados pelo Instituto Gamaleya para apreciação da agência.

“Vossa Excelência precisa ter mais cuidado, faltam informações”, justificou Costa. “Eu espero que isso se resolva, são 66 milhões de doses de vacinas encomendadas. Se já estivessem sendo administradas, nos estaríamos salvando vidas”.

Cloroquina
O presidente do órgão também confirmou a reunião onde foi tratada a mudança da bula da cloroquina para indicar a droga contra a Covid-19. O encontrou foi relatado pelo ex-ministro Henrique Mandetta, na semana passada, à comissão. Estavam na reunião, além do ministro, o então ministro da Casa Civil, general Braga Neto, e a médica Nise Yamaguchi.

“Esse documento foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação deselegante minha”, revelou Barra Torres. “Só quem pode modificar a bula é a agência, desde que requisitado pelo desenvolvedor do medicamento… quando houve uma proposta de pessoa física, eu falei ‘não tem cabimento’”.

O presidente da Anvisa foi criticado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) diante da adoção do governo do uso do medicamento. “Por que a Anvisa não interferiu na defesa da vida, quando medicamentos foram indicados pelo governo Bolsonaro sem amparo científico para uso massivo da sociedade brasileira? Ou quando tentaram mudar a bula?”, indagou o senador.

Confira a íntegra da matéria

 

To top