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Medidas de Trump não vão beneficiar nem os americanos, afirma o senador Beto Faro
Enfim, após muita espera e tensão, eis que o presidente Trump anunciou o dia 2 de abril de 2025 como o “dia da libertação” do seu país. Toda a nossa empatia ao presidente por libertar os Estados Unidos de um processo de empobrecimento pela espoliação histórica praticada por africanos, sul-americanos, árabes, asiáticos e outros povos mundo afora. Estão tão pobres que nem ovo tem por lá!
Para esse propósito libertário foi anunciada a autodenominada reciprocidade tarifária dos EUA mediante a aplicação de tarifas adicionais para o comércio com 185 países, incluindo ilhas isoladas, habitadas por pinguins.
Ato contínuo ao anúncio das medidas houve queda generalizada nas Bolsas nos EUA e no resto do mundo, o que forçou Trump a se declarar aberto a negociações. Porém, prevalecendo o tarifaço, os EUA fulminarão um dos grandes e consistentes pactos políticos firmados por toda a humanidade, neste caso, relacionado à regulação amplamente legitimada do comércio mundial com a transformação do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) em OMC (Organização Mundial do Comércio). Três quartos do comércio no mundo são regidos pelas regras da OMC.
Esse risco de ruptura poderá resultar na inutilidade plena da OMC que já há anos vem se arrastando por conta do esvaziamento do seu órgão de apelação comandada pelos mesmos EUA.
A propósito, após o anúncio americano, como num último suspiro, a OMC revisou as suas projeções para a economia mundial neste ano, que passaram de crescimento de 3%, para retração de 1%. Só esse fato expõe o potencial de danos econômicos e de turbulência sistêmica dessa medida unilateral adotada por um país que responde por 25% do comércio internacional.
Um contexto global de livre comércio e multilateralismo poderá experimentar profunda desorganização e desarmonia por conta da erosão da credibilidade, previsibilidade e estabilidade do sistema. Tudo isso em nome de uma ambição egocêntrica do tal MAGA (Make America Great Again) que tenta a repatriação e atração de capitais para investimentos industriais naquele país.
Trump considera ser possível, por exemplo, reconstituir nos EUA o modelo autônomo da indústria automobilística que vigorou anteriormente ao modelo atual caracterizado pela integração de uma enorme cadeia produtiva distribuída pelo mundo. Porém, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, Trump expulsa mão de obra do território americano ao perseguir a meta de deportações de 500 mil pessoas por ano.
Todas as avaliações no Brasil convergem para a conclusão de que ‘ficamos bem na foto’ pois figuramos na lista dos 126 países com sobretaxação de 10%. Considero uma abordagem superficial. Nenhum país será beneficiado com um eventual quadro de desordem desse porte onde o “vale tudo” poderá ser a regra.
De qualquer modo, essa taxa adicional de 10% obviamente poderá garantir a competitividade do Brasil no mercado americano em produtos com concorrentes com maiores sobretaxas. Exemplo fáceis seriam os calçados ora dominados Vietnã que teve tarifa de 46%, e de alguns produtos do agronegócio.
Esquecem que a indústria americana tomará conta do seu mercado de calçados e que a China e outros países tentarão inundar o Brasil com produtos industriais e assim inviabilizando o Nova Indústria Brasil. Esquecem, ainda, que nossas vendas externas de commodities agrícolas para a China, sudeste asiático e mesmo para a Europa, deverão disparar e assim ampliando a primarização da nossa economia com efeitos diretos no abastecimento e preços internos dos alimentos e nos planos socioambiental e fundiário.
Em suma, o mundo poderia estar tentando evitar o colapso do clima que ameaça a vida neste planeta. Mas, ao invés de focar na COP 30, estamos nos preparando para uma provável conflagração comercial mundial por conta do MAGA que não beneficiará sequer os americanos. Ah, e ainda somos forçados a agredir nossos ouvidos e cérebros pela interpretação de Bolsonaro segundo a qual Trump está apenas protegendo o seu país do vírus socialista. Eles se merecem!