Alessandro Dantas

Belém do Pará está prestes a sediar dois eventos épicos, de amplitude globais. O primeiro, de caráter religioso e cultural será o Círio de Nossa Senhora de Nazaré cujo ápice ocorrerá no dia 15 de outubro com a procissão do Círio; maior manifestação de massa da igreja católica em todo o mundo.
O segundo, de caráter científico, diplomático e político será a COP 30 que, queira Deus, se dará sob a inspiração e bênçãos da padroeira dos paraenses. Ocorrerá em novembro, com os olhares e esperanças de toda a humanidade por respostas efetivas dos países signatários do Acordo de Paris para que seja evitado o colapso do clima do planeta.
O grande desafiado da COP 30 e, portanto, dos objetivos vitais de contenção do processo de aquecimento global será a efetividade da adoção do princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, de modo a que os países ricos que nos levaram a essa situação ameaçadora ao planeta, assumam compromissos, incluindo os financeiros, na proporção das suas responsabilidades.
Esse desafio ficou ainda mais difícil após a denúncia do Acordo de Paris pelos EUA. Se com a participação dos EUA, as Nações Unidas não lograram viabilizar os recursos para o financiamento climático, esse gargalo será superado sem os EUA? Não será uma tarefa fácil, mas, conforme especulado, antes, quem sabe Nossa Senhora de Nazaré opere esse milagre?
Para muito além dos desafios do financiamento, os EUA não apenas abandonaram as estratégias multilaterais para o clima. Na verdade, com o governo Trump, os americanos retroagiram para os séculos XIX e XX. Na contramão da história, restabeleceram estratégias de recarbonização intensiva da economia daquele país.
Da parte brasileira, estamos muito seguros com o engajamento absoluto do governo Lula com os propósitos da sustentabilidade e da manutenção da vida no planeta. Em particular, devemos reconhecer os esforços do governo para garantir a liderança mundial do país no processo de transição energética que é essencial para a contenção da crise climática.
Além disso, o governo Lula voltou a reverter a escalada do desmatamento da floresta amazônica. Quando Lula assumiu o primeiro governo, a destruição da floresta amazônica atingia a escala indecorosa de 27.7 mil km2. Quando o PT deixou o governo, em 2015, o desmatamento estava em 6.2 mil km2.
Em 2024 já no terceiro governo Lula, reduzimos o desmatamento em 50% em relação ao último no do governo Bolsonaro.
O dado ainda mais virtuoso é que junto com a queda de 77.6% no desmatamento da Amazônia entre 2003 e 2015, houve o crescimento da produção agrícola regional, de 105.9%, e assim provando a irracionalidade que tem marcado o uso da terra no Brasil. Provamos que é possível conter o desmatamento, sem risco de colapso na base produtiva da agricultura.
Por fim, vale destacar que a conquista da COP no Brasil, em Belém, além de reafirmar o protagonismo do Brasil nesse tema, significou gesto de ousadia. Afinal, a despeito da singularidade de Belém, nos planos cultural, gastronômico, e urbanística, a cidade acumula déficits logísticos estruturais próprios de uma cidade de uma região pobre, que foi isolada do restante do Brasil, e discriminada pelos poderes centrais, por longo período da história brasileira. Porém, essas dificuldades foram satisfatoriamente enfrentadas com o temendo esforço fiscal do governo federal, juntamente com os governos do estado e do município. Para quem estigmatiza Belém, colocando os problemas da cidade acima da questão essencial da COP, comete preconceito contra a nossa capital e conspira contra os verdadeiros desafios da humanidade.