Repúdio

Beto Faro reage a ataque de chanceler alemão e alerta para “velho vício europeu” sobre Amazônia

Senador também protocolou voto de repúdio às declarações de Friedrich Merz

Alessandro Dantas

Beto Faro reage a ataque de chanceler alemão e alerta para “velho vício europeu” sobre Amazônia

As declarações depreciativas do chanceler alemão Friedrich Merz, feitas no Bundestag em 17 de novembro, ao se referir a Belém, não repercutiram apenas nos gabinetes de Brasília. A fala gerou reação imediata no Pará, onde foi percebida como afronta à dignidade de um povo historicamente subestimado, mas não habituado a ser humilhado.

O senador Beto Faro (PT-PA) protocolou no Senado um voto de repúdio às declarações. Segundo ele, o discurso de Merz acendeu um alerta sobre “um velho vício europeu de falar da Amazônia a partir de estereótipos que misturam paternalismo, desconhecimento e resquícios coloniais”.

“Não somos cenário exótico para turista europeu”, afirmou Faro, ecoando a indignação ouvida nas ruas de Belém e nas comunidades ribeirinhas após a fala do chanceler.

No requerimento, o senador sustenta que não houve qualquer registro de desconforto, preconceito ou mau atendimento à delegação alemã durante sua passagem por Belém, e classifica a declaração de Merz como “retórica improvisada para consumo interno”.

Para Faro, a fala do chanceler “carrega preconceito e perfume neocolonial” ofende um povo que recebeu com generosidade visitantes de todo o mundo durante a preparação para a COP30. Ao enaltecer a Alemanha e, em seguida, desqualificar Belém, Merz reproduziu uma visão antiga: a de que tudo que está fora do eixo europeu é, no máximo, tolerável.

“Essas palavras feriram nosso povo que, por vezes foi subestimado mas nunca humilhado. Não somos cenário exótico para turista europeu” afirmou Faro ecoando a indignação ouvida nas ruas de Belém e nas comunidades amazônicas após a fala do chanceler.

O senador lembrou que Brasil e Alemanha mantêm relações diplomáticas desde 1871, ano da unificação alemã, e que o país europeu é hoje um dos principais parceiros brasileiros nas agendas de floresta, clima, energia renovável e desenvolvimento sustentável, justamente temas nos quais Belém tem buscado protagonismo.

“É irônico que um chanceler de um país que coopera ativamente com a Amazônia se permita esse tipo de comentário sobre a cidade que vai receber chefes de Estado, cientistas e povos tradicionais na COP30”, afirmou.

Segundo ele, Merz “tropeçou na própria percepção de mundo, aquela em que capitais europeias simbolizam civilização e o restante precisa ser tolerado”. A avaliação, diz, é equivocada num momento em que países latino-americanos e africanos reivindicam voz e respeito nas decisões multilaterais.

Ao levar o episódio ao plenário, Faro repudia não apenas a ofensa, mas a disputa de narrativa. “Menosprezar Belém é, de certa forma, tentar minimizar o protagonismo da Amazônia nos debates globais. E isso o Brasil não aceitará”, disse.

O parlamentar também destacou a longa presença de descendentes alemães no Brasil e a cooperação consolidada entre os dois países. “Se Merz tem um problema com a Amazônia, é só dele. A Alemanha, como nação e como povo, não o acompanha nesse constrangimento.”

Faro encerra o voto de repúdio afirmando que o Brasil seguirá apostando no multilateralismo, na democracia e na cooperação internacional, apesar do avanço global de agendas protecionistas e belicistas.

“As lamentáveis declarações do Sr. Merz não nos afastarão dos grandes objetivos. O Brasil é um país aberto ao diálogo. Quem quiser conversar é bem-vindo; quem quiser nos subestimar, que lide com o próprio ridículo”, concluiu.

To top