Na contramão

Escritório em Jerusalém ameaça comércio com Oriente Médio

Em entrevista a CGTN (China Global Television Network), no final de semana, o líder da Bancada do PT no Senado Federal, Humberto Costa (PE), advertiu sobre os prejuízos para o Brasil
Escritório em Jerusalém ameaça comércio com Oriente Médio

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório de negócios do Brasil em Jerusalém. A decisão significa um recuo em relação à proposta inicial de transferir a embaixada. O anúncio significa um recuo do governo em relação ao defendido desde a campanha eleitoral.

Em entrevista a CGTN (China Global Television Network), canal internacional da estatal chinesa, no final de semana, o líder da Bancada do PT no Senado Federal, Humberto Costa (PE), advertiu sobre os prejuízos para o Brasil.

O governo “vai enfrentar o descontentamento do agronegócio, que exporta não apenas carne, mas grãos para o mundo Árabe e irá, certamente, sofrer retaliações desses países, que deverão buscar novos fornecedores desses produtos”. Para o senador petista, o presidente também “vai enfrentar a reação adversa de parte significativa da comunidade Árabe no Brasil, que tem influência econômica”.

A intenção de transferir a embaixada em Jerusalém poderia criar tensões políticas para o Brasil, destacou o senador Humberto Costa à rede estatal da televisão chinesa. “O reconhecimento dos dois Estados — Israel e Palestina — tem sido o posicionamento histórico do Ministério das Relações Exteriores brasileiro e alterar essa posição frente ao conflito Israel-Palestina ‘geraria tensão’ no âmbito do Ministério”, diz a matéria.

Além de provocar insatisfação em suas bases eleitorais, a medida pode trazer graves consequências para a economia brasileira. Atualmente, temos um volume de exportação de cerca de US$ 11,2 bilhões para os países do Oriente Médio, contra US$ 466 milhões para Israel. Sem contar outros US$ 9 bilhões para os países árabes da África.

A primeira reação veio da Autoridade Palestina que convocou o seu embaixador no Brasil, sinalizando contrariedade com a decisão. Em novembro, o Catar já havia protestado contra manifestação do deputado Eduardo Bolsonaro sobre a transferência da embaixada. A Liga Árabe também tornou pública sua preocupação com a possível medida.

Diante disso, o presidente e o vice-presidente do Brasil tentaram minimizar a posição da Autoridade Palestina.”É problema deles”, afirmou Bolsonaro e “daqui a pouco ele volta”, disse Mourão, reconhecendo que se trata de um método diplomático de pressão. Em nota, a Autoridade Palestina chamou a iniciativa de uma “violação flagrante da legitimidade”.

A medida contraria a história da diplomacia e da política de comércio exterior construída pelas autoridades nacionais. Já no primeiro ano de seu mandato, Lula viajou à região, investindo no que se chamou de “diplomacia comercial”, postura reforçada, em 2005, com a organização do primeiro encontro de cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) no Brasil.

Durante os governos do PT, de 2003 a 2015, o Brasil ampliou suas exportações para o Oriente Médio de um total de US$ 2,6 bilhões para US$ 9,6 bilhões. Com isso, as exportações brasileiras para a região cresceram mais de quatro vezes, promovendo desenvolvimento e empregos em diversos setores.

A relação comercial com o Oriente Médio teve um forte incremento durante o governo do general Ernesto Geisel, nos anos setenta. No mesmo período, foram estabelecidas relações diplomáticas e comerciais com a China e com Angola, inaugurando uma nova etapa da diplomacia brasileira.

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