“Ninguém consegue ordem e progresso se não tiver hierarquia e disciplina”. Por incrível que possa parecer, a frase foi pronunciada pelo presidente eleito, dono de uma trajetória oposta ao que prega agora. A declaração ocorreu durante inauguração de um colégio da Polícia Militar no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
No final dos anos oitenta, o capitão Bolsonaro tentava projetar-se como “líder” da campanha por melhores soldos. Para isso, planejou explosões nos quartéis, de acordo com a revista Veja da época. Segundo a revista, estavam previstas “explosões pequenas, para assustar o ministro”. O alvo de Bolsonaro era a autoridade do ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves. As ações nos quartéis seriam “só o suficiente para o presidente José Sarney entender que o Leônidas não exerce nenhum controle sobre a tropa”, segundo a revista.
O histórico de contradições de Bolsonaro não se limita ao terreno militar. Durante a campanha, bateu no bordão do “Brasil acima de tudo”, mas adota uma posição de alinhamento aos interesses dos Estados Unidos. O discurso “patriótico” é traído pela defesa da privatização do patrimônio nacional. Para desmontar o Estado, durante a campanha, Bolsonaro chegou a falar na privatização de 100 empresas.
Na política externa, submete-se a um servilismo ideológico e anti-nacional. Seu governo formado por maioria de militares renega a história da política externa, em boa parte construída pelos governos militares. Antes de assumir investiu contra o Mercosul, os países do Oriente Médio e ameaça afastar o Brasil do Brics. O resultado de sua política pode resultar em graves prejuízos econômicos para os produtores nacionais e desemprego dos trabalhadores.
Ainda durante a campanha, Bolsonaro abriu mão da soberania nacional sobre a Amazônia, defendendo que a região seja explorada por países que “tenham bomba atômica”, leia-se Estados Unidos. “Tudo indica que a principal meta do governo de Bolsonaro, ou a principal razão de ter um Bolsonaro à frente do Brasil, é transformar a floresta amazônica em mercadoria”, definiu a articulista Eliane Brum, no portal El País.
Segundo Brum, “este é o trabalho prioritário de Bolsonaro para uma parcela poderosa dos articuladores de sua candidatura”. Para Brum, Bolsonaro e sua política para a região tem objetivos bem claros. “É na Amazônia que está o estoque de terras supostamente ainda disponíveis no Brasil, para o avanço da pecuária e da soja, e é também na floresta que estão as grandes jazidas minerais”.
Para não deixar dúvidas sobre quais são seus compromissos, em campanha, Bolsonaro prestou continência à bandeira norte-americana e puxou um coro de “USA, USA”, durante reunião nos Estados Unidos. Depois de eleito, recebeu o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, emissário para promover conflito e guerra na América Latina.