A postura de presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia de coronavírus tem sido objeto de constantes críticas da imprensa internacional. Ao se manifestar contra as regras de isolamento social e agir, ele próprio, em desacordo com as orientações das autoridades nacionais e internacionais de Saúde, Bolsonaro é um dos únicos líderes do mundo que ainda tenta negar os impactos mortais da doença.
Neste domingo de Páscoa (12), durante vídeo conferência com lideranças religiosas, ele afirmou que “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego?”, mesmo com o número recorde de casos – 22.169 – que somava 1.223 mortes por covid-19 no mesmo dia.
No mesmo dia, o semanário francês Journal du Dimanche, que circula ao domingos, disse que Bolsonaro faz “uma aposta maluca” ao focalizar toda a sua atenção na economia.
“Quando os mortos começarem a se acumular, ele será apontado como o único responsável”, afirma o brasilianista Frédéric Louault, da Universidade Livre de Bruxelas. O texto de meia página também aponta a falta de leitos e médicos para enfrentar o pico da pandemia e diz que, no estado do Amazonas, o sistema de saúde já entrou em colapso.
Contagiante
Em nome da manutenção das atividades econômicas, Bolsonaro tem inclusive entrando em choque com as orientações pregadas pelo seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O jornal americano The Wall Street Journal destacou as suas andanças pelas cidades-satélites do Distrito Federal, promovendo aglomerações e cumprimentando correligionários, apesar das “consequências mortais” do vírus.
No início do mês, o presidente disse “alguns vão morrer”. “Sinto muito, mas isso é a vida. Você não pode parar uma fábrica de automóveis porque há mortes nas estradas todos os anos”. Para o jornal francês Le Monde, o presidente brasileiro, a quem classifica como “de extrema direita”, se isola de praticamente todos os governadores do país. O seu discurso – “populista, muitas vezes insensato” – serve apenas para “remobilizar” a sua base de apoiadores mais fanáticos.
Praticamente sozinho
O analista de mercado da revista americana Forbes Kenneth Rapoza afirma que Bolsonaro está “praticamente sozinho“, já que o presidente americano Donald Trump, que também chegou a “minimizar” o surto da doença, corrigiu o discurso e passou a sério a pandemia, depois do seu país se tornar o epicentro da crise, tendo registrado mais de 20 mil óbitos. Para Rapoza, a base de apoio do presidente brasileiro vem caído, e ele faz uma “aposta de vida ou morte” em relação ao coronavírus.
Ainda em março, a revista inglesa The Economist, chamava o líder brasileiro de “Bolsonero”, destacando sua declaração dizendo se tratar de uma “gripezinha“. O também britânico The Guardian ressaltou que, para Bolsonaro, tudo não passava de uma “armadilha” da imprensa. Já a BBC afirmou que ele transforma a pandemia em política, “culpando seus adversários por tentarem destruir o país.
O italiano La Repubblica também chama Bolsonaro de “o último cético” e afirma que ele ficou isolado entre os chefes de Estado. Além do Brasil, Belarus e Turcomenistão são dos poucos países a adotar a negação. O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, chegou a afirma que o vírus seria tratado com “vodca, sauna e tratores“. Já o Turcomenistão – vizinho do Irã, que enfrenta maior surto no Oriente Médio – chegou a proibir a utilização da palavra “coronavírus” pela imprensa do país.