O recuo de Jair Bolsonaro, com a “Declaração à nação”, texto no qual prometeu respeitar as instituições democráticas e a Constituição, divulgado na noite de quinta-feira (9), não muda a natureza golpista do atual presidente nem apaga todas as razões que existem para seu impeachment. É o que nos lembram o ex-presidente Lula e a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
“Ninguém estressa instituições e ameaça a democracia só pelo ‘calor do momento’”, ressaltou Gleisi, mostrando o quanto as palavras de “harmonia” de Bolsonaro não convencem e lembrando que, enquanto o ex-capitão estiver na Presidência, o Brasil e sua democracia estarão sob ameaça.
“A natureza de Bolsonaro é golpista, antidemocrática. Bom que diga que recuou, mas seus ditos e desditos não inspiram a menor confiança. Temos de manter a defesa permanente da democracia diante do risco que ele é”, completou Gleisi. A prova de que a presidenta tem razão veio do próprio Bolsonaro, que, após a divulgação da carta, fez uma de suas lives e voltou, por exemplo, a questionar as urnas eletrônicas e a atacar o presidente do TSE, Roberto Barroso.
Ninguém estressa instituições e ameaça democracia só pelo “calor do momento”. Natureza de Bolsonaro é golpista, antidemocrática. Bom q diga q recuou, mas seus ditos e desditos ñ inspira menor confiança. Temos de manter a defesa permanente da democracia diante do risco q ele é
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) September 9, 2021
Razões de sobra para o impeachment
Mais cedo, ao ser questionado sobre a possibilidade de impeachment, o presidente Lula disse à Folha de S. Paulo que “nunca na história do Brasil um presidente teve tantas razões para ser impichado como Bolsonaro”.
Entre esses motivos, Lula destacou os ataques às instituições e à democracia, o envolvimento com as rachadinhas e as milícias, o gabinete do ódio e das fake news e as sabotagens que promoveu no combate ao coronavírus. “Já existem mais de 100 pedidos e nenhum foi votado porque pararam na presidência da Câmara. Os partidos políticos devem cobrar a abertura do processo de impeachment. O povo brasileiro não merece e não pode seguir sofrendo neste governo de destruição”, completou Lula.
A opinião de Gleisi e Lula é compartilhada por parlamentares do PT. “Quem já viu o lobo se transformar em cordeiro de um dia para o outro? Isso aconteceu com Bolsonaro. Bastou assinar uma ‘Carta ao Brasil’ por exigência do mercado, que mandou Michel Temer redigir o manifesto e Bolsonaro assinar”, disse o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA). “Não vai demorar nem uma semana, se engana quem quer. O lobo vai voltar a atacar a nossa democracia”, advertiu o senador.
Economia em frangalhos
A democracia e o futuro do país são muito preciosos para que uma simples carta torne aceitável a manutenção na Presidência de um homem que mobilizou apoiadores para um ato golpista, cometeu flgrantes crimes de responsabilidade (segundo o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, Bolsonaro cometeu, no 7 de Setembro, dois crimes de responsabilidade, quando ameaçou o Judiciário para interferir em decisões e quando quebrou o decoro e chamou ministros do STF de “canalhas”) e colocou o país à beira de um caos ainda maior com um locaute nas estradas promovido por seus apoiadores.
Nesta semana que se encerra, Bolsonaro trouxe ainda mais instabilidade para o país, e por quê? Para simplesmente desviar a atenção do que seu desgoverno vem causando. Além de conduzir mais de 580 mil brasileiras e brasileiros à morte, sabotando o combate à pandemia de Covid-19, como bem lembrou Lula, Bolsonaro deixou o país completamente desindustrializado, trouxe de volta a inflação, a fome e o risco de apagão, e conduziu quase 15 milhões ao desemprego.
Tudo isso sem mencionar o desmonte da Petrobras e outras empresas públicas, da saúde, da educação e da ciência e tecnologia, justamente as ferramentas de que o Brasil necessitará para se reerguer. Bolsonaro destrói o país. Impedir que continue aniquilando nossas vidas e nosso futuro é a tarefa mais urgente do momento.