Para agradar ao chefe Donald Trump, Bolsonaro acertou um duro golpe nos produtores brasileiros de etanol, provocando um sério prejuízo, principalmente ao Nordeste. Na reunião da última sexta-feira (30) de agosto entre o chanceler Ernesto Araújo e o aspirante a embaixador com o presidente norte-americano Donald Trump foi acertada a ampliação 600 milhões de litros para 750 milhões de litros a cota anual de importação de etanol dos EUA isenta da alíquota de 20%.
A decisão foi rapidamente publicada no Diário Oficial do final de semana.
Prejuízo ao Nordeste
“Os exportadores norte-americanos de etanol disporão de mais 150 milhões de litros anuais para inundar o mercado brasileiro com o seu produto subsidiado”, protestou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), ressaltando que os principais estados prejudicados são exatamente os do Nordeste, a região mais pobre do País, em particular Pernambuco e Alagoas.
Humberto explica que o Brasil e os Estados Unidos são hoje os dois maiores produtores de etanol do mundo—juntos, respondem por 85% da produção mundial. O etanol brasileiro, porém, é feito da cana-de-açúcar, enquanto o etanol americano é feito de forma supersubsidiada, a partir do milho.
Subsídios
Os subsídios concedidos pelo governo dos EUA a seus produtores de etanol impulsionaram essa indústria. Se em 2006 os Estados Unidos chegaram a importar 1,7 bilhão de litros do Brasil, passaram a exportar boa parte da sua produção a partir de 2015.
Para regular a inundação de etanol norte-americano no nosso mercado, o Brasil impôs, há dois anos, uma tarifa de 20% sobre os embarques do produto que ultrapassem a cota anual de 600 milhões de litros.
Barreira inconveniente
Essa modesta barreira, porém, não convém ao país de Trump, que vê seu mercado de etanol minguar no mundo: a China está deixando de comprar o produto, no âmbito da guerra comercial travada com os EUA.
Os europeus também deram um freio nas importações, aplicando medidas antidumping contra o álcool americano, já que o excesso de subsídios estatais à produção redunda em concorrência desleal.
Amigos
Mas quem tem amigos, tem tudo e lá se foi Bolsonaro resolver o problema do “irmão do Norte”, ampliando a cota de etanol americano que vai entrar no Brasil isento dos 20%. Trump comemorou entusiasmado a oferenda levada por Eduardo Bolsonaro em sua visita à Casa Branca.
“Até o Ministério da Agricultura do governo Bolsonaro se colocou contra essa medida, mas prevaleceu a opinião do Ministro da Economia”, lembra Humberto Costa. A concessão de Jair Bolsonaro a Donald Trump sequer cobra contrapartidas, como a abertura do mercado norte-americano ao açúcar brasileiro.
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