A Subcomissão da União Europeia do Congresso da Áustria aprovou, por ampla margem, uma moção que rejeita a adesão daquele país ao acordo entre a UE e o Mercosul.
Pela ordem jurídica interna da Áustria, o governo austríaco fica obrigado a vetar o referido acordo no Conselho Europeu, instância máxima decisória da UE.
Isso implica, na prática, a rejeição do acordo, pois ele requer a aprovação unânime dos 28 membros da UE para entrar em vigor.
A União Europeia, lembre-se, é uma união aduaneira. A Comissão Europeia negocia em nome de todos os Estados da UE. Todos os países têm de obedecer às mesmas normas alfandegárias, que são modificadas com acordos de livre comércio. A retirada de um país do acordo vulneraria essa união. Assim, se um decide vetar, todos têm de sair.
A decisão da Áustria não deverá ser solitária. França, Irlanda e Luxemburgo, entre outros, deverão segui-la.
Surpreendeu, na decisão, a ampla margem de rejeição ao acordo, que se estendeu da esquerda à direita. Dos cinco maiores partidos da Áustria, apenas um, o NEOS, votou a favor da manutenção do tratado com o Mercosul.
A moção foi apresentada por Jörg Leichtfried do Partido Social Democrata (SPÖ), de centro-esquerda, mas até o Partido Popular Austríaco (ÖVP), principal partido da direita austríaca, que tinha posição anterior favorável ao acordo, acabou por apoiar a moção de rejeição.
Pudera. Conforme as pesquisas de opinião da Áustria, atualmente 78% dos eleitores rejeitam o acordo.
Claro está que sempre houve resistência ao acordo com o Mercosul na União Europeia, principalmente por parte dos agricultores europeus, protegidos por quotas tarifárias altíssimas e por uma montanha de subsídios.
Contudo, esse não foi o fator principal para esse resultado praticamente unânime do parlamento austríaco. O fator preponderante foi a irresponsabilidade ambiental do piromaníaco presidencial.
Com efeito, o grande aumento das queimadas na Amazônia, complementado por declarações agressivas e estapafúrdias do presidente e do chanceler pré-iluminista, simplesmente chocou a opinião pública europeia e mundial, criando clima político amplamente negativo, em relação ao Brasil.
Elisabeth Koestinger, ex-ministra da Agricultura do Partido Popular Austríaco, resumiu bem questão com a seguinte declaração: “a floresta tropical está sendo incendiada na América do Sul para criar pastagens e exportar carne barata para a Europa. “A UE não deve recompensar isso com um acordo comercial.”
Tal alegação pode ser, em parte, verdadeira, pois atualmente o Mato Grosso é o principal exportador brasileiro de carne bovina in natura, com Rondônia ocupando o 4º lugar. Em ambos esses estados houve grande aumento de queimadas, nos últimos tempos. Embora não se possa fazer essa associação de forma automática, a atitude antiambientalista beligerante de Bolsonaro conduziu a fortes suspeitas.
Tivesse tido o governo de celerados um mínimo de sensatez e de habilidade diplomática, o assunto poderia ter sido superado. Preferiram xingar a esposa de Macron.
Pesou também, nessa decisão, a péssima imagem do governo Bolsonaro relativamente aos direitos humanos, à proteção dos povos originários e à democracia.
De fato, o governo neofascista brasileiro, com um presidente que defende tortura e extermínio de opositores, que é claramente homofóbico e misógino, e que até agride mulheres de líderes políticos, desperta inevitável repulsa em qualquer um que seja minimamente civilizado.
Bolsonaro é, hoje, a única unanimidade inteligente do planeta. Todo o mundo civilizado o rejeita. O presidente brasileiro é visto como uma nulidade repulsiva.
Tal repulsa deverá ser intensificada pelo discurso que ele fará na abertura da Assembleia Geral da ONU. Seguindo seu perfil tosco, beócio e despreparado, o capitão deverá fazer um discurso agressivo, o que prejudicará ainda mais a imagem do Brasil. Afinal, a ONU não é uma assembleia de milicianos e de bolsonaristas descerebrados.
Enfim, o próprio governo que apresentou, com grande fanfarra, o Acordo Mercosul/UE como sua grande conquista em política externa, se encarregou de queimá-lo, quase que literalmente.
Agregue-se que a rejeição ao acordo, suscitada pelo piromaníaco neofacista, afeta não apenas os interesses do Brasil, mas também os da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.
No fundo, não é uma má notícia, uma vez que o acordo, concluído às pressas por pressão da indústria europeia, muito mais competitiva que a brasileira, prejudicaria, se entrasse em vigor, os nossos maiores interesses nacionais. Apenas alguns setores do agronegócio, como ironicamente o da pecuária, seriam parcialmente beneficiados.
Não obstante, o fato demonstra, mais uma vez, que a desastrada política externa de Bolsonaro, de extrema submissão a Trump, vem destruindo a projeção do Brasil no mundo.
Bolsonaro é o suicídio do Brasil.