O pronunciamento de Jair Bolsonaro foi um “papelão, espetáculo de grosseria”. E mostrou que o presidente está preocupado com sua viabilidade eleitoral, em “manter um acirramento político”, e não com a sociedade. A observação é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que divulgou vídeo ao lado do ex-ministro Fernando Haddad. Para o petista, Bolsonaro chegou ao limite “das pessoas mais compreensivas” e “realmente não está preparado” para comandar o país.
“Fiquei assustado, porque o papel de um governante é tentar orientar a sociedade. Para minha surpresa, o presidente aparece na televisão, de forma intempestiva, fazendo uma guerra política contra a sociedade brasileira, os governadores, os prefeitos”, afirmou Lula. O vídeo ao lado de Haddad, com avaliação das ações de Bolsonaro, foi transmitido em rede social na noite desta quarta-feira (25).
Dizendo-se pessimista, porque o país “perdeu muito tempo” no combate à pandemia, Lula lamentou que o atual presidente não tenha buscado o diálogo e uma ação coordenada em todo o país.
“A quem ele falou? Com que interesse ele falou? Parecia uma preocupação eminentemente política e eleitoral”, disse ainda o ex-presidente sobre o pronunciamento de Bolsonaro em cadeia nacional de rádio e TV.
“Acho que o Congresso Nacional, os partidos políticos, a sociedade precisam dar um jeito no Bolsonaro.” Para ele, é preciso garantir saúde para “recuperar a democracia” no Brasil.
Discurso raivoso
Em vez de governar para todos, inclusive os que não votaram nele, o presidente parece se dirigir apenas a uma parcela minoritária da sociedade. E sempre com um “discurso raivoso” voltado para quem não o elegeu. “O Bolsonaro nunca se preocupou com isso (governar para o conjunto)”, criticou Lula.
Haddad se referiu ao que considera um “comportamento errático” do atual presidente, que muda suas decisões de um dia para o outro. Citou o exemplo da Medida Provisória 927, que permitia suspensão de contratos e de pagamentos de salários por até quatro meses. Anunciada no domingo (22), a MP teve esse artigo suprimido menos de 24 horas depois.
Para Lula, o presidente assinou sem ler. “Ele não sabia da medida provisória. Ele não leu, assinou e só foi descobrir a bobagem que tinha feito no dia seguinte.” Para o petista, a MP mostrou a “submissão” do ministro da Economia, Paulo Guedes, à Confederação Nacional da Indústria. Ele disse ainda que a medida foi um “passa-moleque” da CNI nos trabalhadores.