Em alguns supermercados, o quilo da batata inglesa chegou aos R$ 7,00 nos últimos dias. A alta do produto, nesse último mês, foi de 20,11%, em média. O preço da cebola também está de chorar, literalmente, e sai mais caro que a batata. A alta dos alimentos foi um dos itens que fizeram o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo 15), divulgado nesta terça-feira (25), registrar 0,16% de inflação em outubro. O índice, medido pelo IBGE, dá uma prévia do que será a inflação do mês.
O resultado quebra uma sequência de deflação de dois meses, e deixa o acumulado dos últimos 12 meses na casa dos 6,85%. Além do grupo alimentação e bebidas, a alta de 1,44% nos planos de saúde contribuiu para inflar a carestia, assim como vestuário, habitação e despesas pessoais. Mesmo longe de definir o dia a dia das famílias que mais sofrem com a inflação, a disparada do preço das passagens aéreas (28,17%) também concorreu para engrossar o IPCA.
Por trás dos números, confirma-se, mês a mês, leitura já feita por analistas: o governo vai segurando a inflação até o limite do 2° turno das eleições. Uma evidência disso é que, sem a participação do grupo combustíveis, a inflação de outubro chegaria a 0,45%. O economista Bruno Moretti, da Liderança do PT no Senado, lembra que a queda do preço nos postos de gasolina contraria a política do governo Bolsonaro, que é de repassar o valor praticado no mercado internacional, a chamada PPI.
“O governo Bolsonaro está usando a Petrobras para represar preços até a eleição, mantendo os preços internos abaixo da paridade internacional, em contrariedade à própria política adotada pela empresa desde 2016. Assim, a expectativa é que, passada a eleição, o IPCA volte a subir, mantendo-se acima da meta de inflação, uma vez que os preços internos da gasolina e do diesel estão defasados em relação aos internacionais”, explica Bruno Moretti, que, como a bancada do PT, defende a adoção de instrumentos transparentes para não repassar a volatilidade dos preços externos à economia, como o fundo de estabilização de preços, projeto do partido aprovado no Senado.
Outra barragem que o Planalto usou para tentar não fazer água no projeto de reeleição do presidente é a redução do ICMS sobre combustíveis. Contudo, a perda de arrecadação pelos estados afeta a capacidade de prestarem serviços de educação e saúde. Bruno Moretti adverte que projetos atuais do governo, como o que acaba com reajuste da aposentadoria pela inflação, estão sendo pensados exatamente para que o povo pague a conta das medidas eleitoreiras.
“Seja por meio da Petrobras, seja por meio da subtração de recursos de entes subnacionais que financiam serviços públicos, o governo Bolsonaro usa e abusa da máquina pública para produzir artificialmente uma redução do IPCA, que tenderá a ser revertida pós-eleições”, projeta Bruno Moretti, que enxerga outros problemas no curto prazo: “como consequência das medidas adotadas pelo governo, a combinação de aumento de preços e desaceleração da economia tenderá a produzir novas quedas do rendimento real do trabalho, agravando a crise econômica e social do país”.