Estamos nos aproximando do dia 7 de setembro, essa data tão simbólica para a Nação brasileira e que nos faz refletir sobre o sentido de independência, sobretudo num momento tão conturbado da vida nacional.
Passamos da marca de 580 mil mortos pela Covid-19, nosso meio ambiente está devastado, acumulamos quase 15 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados, mais 6 milhões de inativos que precisam de emprego e 7 milhões ocupados de forma precária. Para piorar, voltamos a conviver com a fome e a inflação, que afeta itens essenciais, como alimentos e combustíveis, somada ao aumento no preço da energia elétrica. Um conjunto de fatores que impacta diretamente na vida de milhões de pessoas.
Em que pese esse quadro dramático, onde mais do que nunca falta liderança, o Brasil está à deriva. Temos um presidente que só provoca a democracia e as instituições para alimentar o ânimo dos seus seguidores mais fiéis e radicais. Isolado, cria cortinas de fumaça, ameaça um golpe, mobilizando todas as atenções.
Diante de tantos sintomas que escancaram a ausência de governo, realiza passeios de moto, incentiva o armamento e ameaça a normalidade democrática. Tudo para esconder sua total falta de humanidade diante do sofrimento das pessoas e seu despreparo para lidar com os problemas reais que o país enfrenta – e que não são poucos. O tom de ameaça é o que resta a quem se vê acuado e com cada vez menos chances de reeleição.
É bom lembrar que, há cinco anos, já tivemos um golpe contra a democracia brasileira. Não foi com armas, tanques ou ameaças de milícias, mas com um teatro que deu ares de legalidade ao impedimento da presidenta Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade. Depois disso, a prisão de Lula, num processo eivado de vícios, desprovido de provas e que aconteceu pela via do lawfare para tirá-lo das eleições de 2018. E, com esses dois acontecimentos, uma sequência de episódios que corroem nossa democracia.
Não acredito que o atual presidente dará um golpe. Não há espaço nacional nem internacional para isso. O discurso de que só sai da cadeira da Presidência morto, preso, que só Deus pode lhe tirar do cargo, são clichês sem nenhuma substância. É o blefe de quem não tem nada de útil para apresentar ao país tão deprimido. E essa narrativa golpista rapidamente ganha escala nas redes e na imprensa, assustando boa parte da população, mobilizando nossas energias. Aí pergunto: na próxima semana, quando tudo passar, qual será o baratino da vez?
Sou dos que preferem focar no que realmente interessa: como tirar o país desse buraco em que nos colocaram? Debater com a sociedade o projeto necessário para interrompermos esse ciclo macabro de destruição e voltarmos a ter esperança. Tenho dialogado com atores nacionais e internacionais em busca da construção de um novo modelo de desenvolvimento, em que economia, igualdade social e sustentabilidade caminhem lado a lado. Esta é uma pauta em discussão no mundo todo e que merece a devida atenção aqui no Brasil.
Precisamos colocar como prioridade na agenda nacional temas como emprego, renda, inclusão produtiva, justiça social, vacina, saúde, educação, segurança, agricultura familiar, responsabilidade econômica e tudo que impacta diariamente na vida da nossa gente. De todas as classes sociais, mas especialmente das pessoas com menor poder aquisitivo, sempre as que mais sofrem diante de tanto desprezo.
Só mudaremos a história deste país – hoje completamente desorganizado, sem rumo e sem esperança – se tivermos a capacidade de unir pessoas e projetos que mirem num futuro melhor. Tenho insistido, como presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, em discutir a economia verde, que gera empregos no mundo todo, com salários até 19% mais altos no setor de energia limpa, por exemplo, despertando a sociedade para uma nova convivência com o Meio Ambiente. Estamos num limite ambiental, com secas cada vez mais severas, racionamento de energia, aquecimento global e destruição da nossa biodiversidade. Se não agirmos agora, estamos comprometendo não somente as futuras gerações, mas também as atuais.
Um grande artista baiano, Lazzo Matumbi, tem uma composição que diz: “No dia 14 de maio, eu saí por aí, não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir”. É uma referência à dita abolição da escravatura, ocorrida em 13 de maio de 1888 e que, como ele transformou em música, não trouxe nenhuma perspectiva real aos escravizados no dia seguinte.
Com essa inspiração, digo que o 7 de setembro irá passar. E, no dia 8, devemos seguir dispostos e vigilantes para enfrentar os temas que realmente interessam ao povo brasileiro, construindo alternativas e defendendo a democracia, sempre, em primeiro lugar. A independência depende de novas perspectivas para superarmos esse capítulo tão desastroso da vida nacional.