O primeiro ano de Luiz Inácio Lula da Silva à frente da Presidência do Brasil foi visto com cautela pela imprensa internacional. O passado de esquerdista não passou em branco. Mas mesmo jornais como The New York Times perceberam a disposição do brasileiro para o diálogo e o cobriram de elogios, apontando sua eleição como um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil e a cruzada contra a fome e a miséria um sinal importante.
No caso de Dilma, os bons ventos gerados pela gestão de Lula também colocaram-na com boa visibilidade, sendo apresentada como uma líder de fibra e fortes ideais. Não era para menos. Dilma era a primeira mulher a chegar ao poder no Brasil e tinha um passado de coragem, como militante política forjada na luta contra a ditadura militar. Uma diferença na percepção da imagem do Brasil sob a administração de Jair Bolsonaro, apontado como um político de extrema-direita que elogia ditadores e se mostra contrário às políticas sociais e de direitos humanos.
O noticiário sobre o Brasil na imprensa estrangeira é de notícias ruins. E isso já ocorre há meses. A última foi a morte da menina Ághata Vitória Félix, 8 anos, no sábado, vítima de bala perdida. O episódio ganhou projeção internacional e repercutiu fortemente na imprensa estrangeira, ampliando o noticiário negativo sobre o Brasil. No Reino Unido, a repercussão da morte de Ághata ganhou as páginas do Independent, The Guardian – que destaca no título a “culpa” da polícia do governo Witzel, “um político de extrema-direita que apoia o presidente Bolsonaro” – e na SKY News.
Toda a mídia global está de olho no Brasil, e isso ocorre desde o início do ano, com a posse de Bolsonaro, apontado lá fora como um líder que defende a tortura e ataca mulheres e gays. A situação de lá para cá piorou. Além disso, o país ocupa hoje o papel de vilão ambiental. Um retrocesso na imagem da nação que sempre foi líder na agenda climática. De líder nos fóruns globais sobre proteção ambiental, o país agora é visto como omisso em relação ao desmatamento e às queimadas das suas florestas tropicais.
No domingo, o jornal The New York Times trouxe longo artigo do correspondente Ernesto Londoño, intitulado “Imagine Bolsonaro sendo julgado por ecocídio em Haia”. “Do ponto de vista probatório, Bolsonaro é um réu em potencial atraente, porque tem desdenhado das leis e regulamentos ambientais de seu país”, diz o texto. O jornal ainda chamou o presidente brasileiro de ‘mini-Trump’ na reportagem sobre a Assembleia Geral da ONU, que começa nesta terça-feira, 24 de setembro, justamente com a abertura pelo líder brasileiro. O jornal diz que Bolsonaro é “uma figura polarizadora que, como Trump, nega a mudança no clima e ridiculariza críticos no Twitter”.
O Brasil hoje parece uma sombra do que era em 2003, quando o mesmo New York Times cobriu de elogios o presidente Lula. “O único chefe de Estado a participar do Fórum Social Mundial e do Fórum Econômico Mundial em janeiro, refletindo suas origens como líder trabalhista de esquerda e seu novo status de estadista”, noticiou o diário americano, em 31 de maio de 2003. “Sua verdadeira estreia no cenário global acontecerá quando ele comparecer à reunião do Grupo dos 8 em Évian, França, na próxima semana e em 20 de junho, quando visita o presidente Bush em Washington”.
Em 10 de abril de 2003, o mesmo NYTimes apontou o “sucesso do Brasil, apesar dos pessimistas”, com Lula na Presidência. “Os sinais econômicos estão apontando principalmente em direções positivas”, noticiou o diário. Em janeiro, o jornal já havia noticiado que o mercado vivia uma “lua-de-mel” com “o presidente de esquerda” e, no mesmo mês, destacou que “ele é o primeiro membro da classe trabalhadora a se tornar presidente” e “o primeiro candidato de um partido de esquerda a ganhar uma votação presidencial”.
O jornal francês Le Monde, dias antes da posse do petista como novo presidente do Brasil, desejou “boa sorte” a Lula e disse que sua eleição representava “um novo espírito que sopra ao sul do Rio Grande”. Sua vitória foi saudada como uma oportunidade para o país e o jornal registrou com destaque que Lula dava início à “sua cruzada contra a miséria”. Nos 100 dias do governo, o diário apontava que Lula mantinha sua popularidade e que a economia estava “ganhando credibilidade”.
O primeiro ano de Dilma à frente da Presidência do Brasil também foi visto com bons olhos pela imprensa internacional. Em 2011, a revista The New Yorker a chamou de “A Ungida”, lembrando que “até o ano passado, Dilma Rousseff nunca havia concorrido a um cargo público, mas foi escolhida para a Presidência por seu carismático antecessor”.
O segredo para a vitória do PT? A revista respondia: “Vinte e oito milhões de brasileiros saíram da pobreza severa na última década, enquanto a pobreza nos EUA está na sua taxa mais alta em anos. O Brasil está em paz. Renunciou às armas nucleares. Possui um orçamento equilibrado, baixa dívida nacional, emprego quase pleno e baixa inflação. É, caoticamente, democrático. Tem uma imprensa livre. O Brasil também possui um quarto das terras aráveis ??do mundo. E há cinco anos, o que parecem ser alguns dos maiores campos de petróleo offshore do mundo foram descobertos em suas águas. Os brasileiros geralmente estão entre os mais otimistas do mundo em relação ao seu futuro”.
Também em 2011, a revista americana Time colocou Dilma entre as pessoas mais influentes do mundo. No texto, escrito pela ex-presidente do Chile Michele Bachelet, Dilma é apontada como uma líder com “sólida experiência” e “ideais firmes”. E Bachelet a apresentava dessa forma: “Dilma oferece precisamente a combinação virtuosa de sabedoria e convicção de que seu país precisa. A nova presidente do Brasil é uma lutadora corajosa que enfrentou sua antiga ditadura militar e dedicou sua vida a construir uma alternativa democrática para o desenvolvimento, a igualdade social e os direitos das mulheres”.