O Brasil gasta menos em defesa, proporcionalmente ao Produto Interno Bruto (PIB), que os demais países que integraram inicialmente os Brics – Rússia, Índia e China. A informação foi apresentada nesta quinta-feira (29/09) pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, durante audiência pública sobre o tema promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Segundo o ministro, o Brasil emprega atualmente 1,39% de seu PIB no setor de defesa e tem mantido ao longo dos últimos anos uma média próxima ao 1,5% de seu produto. A média mundial, comparou, situa-se em 2,6% – quase o dobro da brasileira. A Índia, prosseguiu, emprega em defesa o equivalente a 2,8% de seu PIB, enquanto a China tem destinado ao setor 2,2%. Somente a África do Sul, que acaba de ingressar nos Brics, tem empregado 1,3% do PIB, média semelhante à do Brasil.
Amorim citou esses números ao pedir o apoio da comissão aos principais projetos de modernização das Forças Armadas. Ele ressaltou que o Brasil, embora seja um país pacífico, não pode abrir mão da defesa de suas riquezas, como a Amazônia, as reservas de petróleo da plataforma continental e a sua produção de produzir alimentos. Em sua opinião, é preciso conquistar o apoio da sociedade aos investimentos necessários para garantir a defesa nacional. “A defesa nacional será tão mais robusta quanto mais apoio obtiver da sociedade, que precisa legitimar seus pleitos. Há muitos setores ainda da opinião pública que veem a defesa com os olhos do passado, quando o Brasil tinha papel secundário na ordem mundial”, disse Amorim.
Programas
Entre os programas mais importantes de seu ministério, ele citou o de desenvolvimento de um submarino nuclear. Dos R$ 2,8 bilhões solicitados para o Orçamento de 2012, informou, R$ 2,1 bilhões foram incluídos no projeto encaminhado ao Congresso Nacional. Ainda sobre a Marinha, ele citou o envelhecimento da frota brasileira de navios e os crescentes riscos de pirataria e pesca predatória.
A respeito do Exército, ele citou o programa de desenvolvimento do blindado Guarani, com patente brasileira, que deverá ser fabricado em Minas Gerais, e os investimentos na montagem do Centro de Defesa Cibernética, com investimentos de R$ 110 milhões. O ministro informou também que não existe ainda definição a respeito da compra dos novos caças que equiparão a Força Aérea Brasileira, embora o envelhecimento dos atuais aviões aponte para a necessidade de uma rápida decisão.
A renovação da frota da FAB foi uma das preocupações externadas pela senadora Ana Amélia (PP-RS), autora do requerimento para a realização da audiência, durante o debate com o ministro. Da mesma forma, o senador Blairo Maggi (PR-MT) ressaltou a necessidade de o governo brasileiro obter o compromisso de uma real transferência de tecnologia quando adquirir os novos caças. O senador Luís Henrique (PMDB-SC) alertou para a crise do setor têxtil brasileiro e lamentou que parte dos uniformes de soldados brasileiros tenha sido produzida em outros países, como a China.
O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), defendeu o lançamento de um satélite geoestacionário brasileiro, para garantir total confiabilidade às comunicações militares. Por sua vez, o senador Aníbal Diniz (PT-AC) manifestou sua disposição de ajudar o ministério no que for possível para levar adiante programas como o de implantação da Base de Lançamentos de Alcântara (MA).
Haiti
Amorim defendeu a retirada gradual de tropas brasileiras do Haiti, onde o Brasil participa de missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Atualmente, observou, 2.200 soldados brasileiros encontram-se naquele país. Antes do terremoto que atingiu o Haiti no ano passado, eram 1.300 soldados. Segundo o ministro, há no governo brasileiro a “percepção” de que é necessário reduzir as tropas aos níveis anteriores ao terremoto. Até porque, como ressaltou, uma das missões principais dos soldados da ONU, a consolidação da segurança com o objetivo de garantir a democracia, foi “mais ou menos alcançada”, dentro das condições de um país muito pobre como o Haiti.
“É muito importante que a retirada não seja percebida como um desengajamento do Brasil. Todos concordam que uma redução gradual é necessária. Não podemos nos eternizar e nem sair de forma irresponsável”, afirmou Amorim
Agência Senado