O Brasil atingiu o recorde da desigualdade social em 2020, segundo relatório sobre riqueza global elaborado pelo banco Credit Suisse. Segundo o documento, a situação só vem piorando em comparação aos anos anteriores. Com isso, o Brasil é atualmente um dos países mais desiguais do mundo.
A concentração de renda também aumentou no país, seguindo uma tendência mundial que foi ainda mais acelerada pela pandemia de Covid-19. Pelos dados do documento, em 2020, quase a metade da riqueza do Brasil ficou concentrada na mão de 1% mais rico da população, ou seja, 49,6%, sendo que em 2019 este índice era de 46,9%.
De acordo com o relatório do Credit Suisse, esse é também o nível mais alto de concentração de renda desde 2000, quando naquele ano o 1% mais rico do Brasil era dono de 44,2% das riquezas brasileiras.
É interessante observar que no ano de 2010, em pleno governo do PT, esse índice havia caído para 40,5%, que foi a menor proporção verificada no período. E ela voltaria a crescer até chegar aos quase 50% de 2020 nas mãos de uma minoria enriquecida.
Comparando com outros países da América Latina, como Chile e México – onde a tendência foi a mesma – os números da desigualdade social no Brasil são muito altos. No México a proporção da riqueza na mão do 1% mais rico caiu de 40,1% em 2000 para 33,6% em 2020, e, no Chile, a queda foi de 42,8% para 31%.
Ainda segundo o relatório, no grupo de países mais fortes economicamente, apenas na Rússia o número da desigualdade é maior do que no Brasil, com 58% das riquezas concentradas no 1% da população mais rica. Na Índia, o índice ficou em 40%, enquanto que nos Estados Unidos é de 35% e no Japão não passa de apenas 18%.
E as perspectivas para 2021 com relação ao aumento da desigualdade social por aqui também não são das melhores. Uma pesquisa divulgada no dia 14 de junho pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), confirmou aquilo que já podia ser visto nas ruas das principais capitais brasileiras: a desigualdade atingiu nível recorde no Brasil, a reboque da queda de renda generalizada.
De acordo com o levantamento ‘Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia’, no primeiro trimestre de 2021, a renda média per capita desabou para R$ 995, ou 11,3% a menos que no mesmo período de 2021.
Pobres mais pobres, bancos mais ricos
Se a desigualdade só aumenta no Brasil, com o país retornando inclusive ao mapa da fome e com uma atual taxa de desemprego que passa da marca absurda dos 15% da população, os grandes bancos não tiveram e nem tem do que reclamar.
Nem mesmo a crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus e a própria crise financeira que destrói empregos e provoca a falência de empresas conseguiram abalar ou alterar para baixo os lucros dos estabelecimentos bancários.
Enquanto o relatório do Credit Suisse aponta 2020 como o ano em que a desigualdade social aumentou ainda mais a distância entre pobres e ricos no país, somente no primeiro trimestre de 2021 os três maiores bancos se mantiveram no azul e registraram lucros excelentes.
Juntos, Bradesco, Itaú e Santander lucraram R$ 16,9 bilhões, ou 46,9% mais do que no mesmo período de 2020. E R$ 300 milhões acima da soma dos lucros registrados no primeiro trimestre de 2019.
O Bradesco (R$ 6,5 bilhões, alta de 73,6%) foi o que mais lucrou, seguido pelo Itaú (R$ 6,4 bilhões, alta de 63,5%). Embora a menor alta (4,8%) tenha sido do Santander, o lucro de R$ 4 bilhões, é o maior do banco para o primeiro trimestre desde 2010 e representou 21% do lucro recorrente global da corporação.