Brasil não é mais coadjuvante no mundo, diz Lula

No seminário sobre os 10 anos dos governos do PT, o ex-presidente ressaltou a mudança estrutural na política externa brasileira, que levou o País a ter voz e vez lá fora. Dilma disse que países com maior força precisam ser mais generosos. “É o que eu chamo de princípio ‘Lula da Silva’ nas relações internacionais”.

Em 2003, o fluxo do comércio exterior brasileiro foi de U$S 122 bilhões. Em 2012, a cifra saltou para U$S 466 bilhões. Isso foi decisivo para que o País passasse da posição de 15ª economia mundial em 2002 para o 6º lugar em 2013.

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“A melhor coisa do governo é a relação com
as pessoas. Ponte, viaduto todo mundo faz
igual, a diferença é a aliança com o povo,
a crença de que nós podemos fazer a
diferença”

A nova geopolítica internacional foi o tema do seminário que marcou o aniversário de 10 anos do PT no Governo Federal, evento que aconteceu na noite de terça-feira (14/5) no Teatro Bourbon Country. O assunto foi apresentado por Marco Aurélio Garcia, assessor da presidência para assuntos internacionais, que trouxe uma análise muito positiva do posicionamento do Brasil no cenário internacional. Porém, o que os cerca de mil militantes que lotavam o teatro esperavam eram as falas dos líderes do decênio que mudou o Brasil: Dilma e Lula.

Garcia abriu o encontro mostrando que hoje o mundo olha para o exemplo brasileiro em busca de soluções para os problemas econômicos, mas principalmente sociais. “Hoje, o Norte está no Sul. É para o Brasil que olham em busca do caminho para vencer as tendências conservadoras e sacudir os partidos de esquerda dos países desenvolvidos. Temos a missão, de juntos, construir novos paradigmas”, frisou.

Para Garcia, o grande acerto do governo Lula foi ampliar as relações externas e priorizar o fortalecimento da América Latina, com resultados expressivos. A presença comercial do Brasil aumentou em todas as regiões do mundo, e as trocas comerciais brasileiras quadruplicaram na última década. Em 2003, o fluxo do comércio exterior brasileiro foi de U$S 122 bilhões. Em 2012, a cifra saltou para U$S 466 bilhões. Isso foi decisivo para que o País passasse da posição de 15ª economia mundial em 2002 para o 6º lugar em 2013.

Ato político
O governador Tarso Genro abriu o ato político salientando que agora se inicia um novo ciclo no projeto democrático do País. O chefe do Executivo gaúcho disse que o desenvolvimento e a radicalidade democrática, conquistados a partir de Lula e consolidados com a presidenta Dilma, passará por um período de novos desafios. “Isso se dá por três razões: a grande mobilidade social promovida pelo governo, que significa que foram lançados no mercado e na cidadania mais de 40 milhões de brasileiros; porque, como dizem Lula e Dilma, o cenário global que é de crise é também de delegação para países como nosso; e por último porque a oposição está sem rumo e sem projeto”, disse.

O presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão, salientou que o Brasil continua precisando de reformas e convidou toda a militância para divulgar e participar do projeto de lei de iniciativa popular pela reforma política. Falcão também disse que está na hora do governo dar um segundo salto. “O futuro não é mero prolongamento do presente. Queremos que este segundo salto complete sua trajetória e que o fim da pobreza seja apenas o começo. Que consigamos realizar todas as reformas que o país merece: política-eleitoral, tributária, de Estado, com expansão da liberdade de expressão. O PT quer continuar governando com Dilma no comando e tendo o povo como protagonista”, falou.

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“O Brasil não precisa pedir licença pra fazer
jogo na política internacional. Não somos
mais coadjuvantes e isso exige mais do
governo e da sociedade brasileira”

A fala do ex-presidente Lula incendiou o público. Entre brincadeiras (“Dilma, depois que a gente vira ex-presidente é um problema, ninguém mais traz água para a gente”) e dados sérios (“O Brasil virou um país importante na geopolítica internacional. Tínhamos sido a 8ª economia do mundo, caímos pra 13º e hoje somos a 6ª. Não tínhamos representação internacional, hoje temos FAO, a OMC e, se der certo, os Direitos Humanos da OEA”) que comprovam o sucesso da década petista no governo federal, Lula atraiu muitos aplausos.

O ex-presidente também falou sobre política internacional. Salientou que o governo superou a problemática subordinação do Brasil à Alca e priorizou o fortalecimento da América Latina, América do Sul e Mercosul. “Vencemos o complexo de vira-lata que tomava conta do país. Fortalecemos o Mercosul, construímos a Unasul, buscamos a unidade entre América do Sul e África, América do Sul e Oriente Médio; a presidenta Dilma fortaleceu os BRICS e Ibas. O Brasil não precisa pedir licença pra fazer jogo na política internacional. Não somos mais coadjuvantes e isso exige mais do governo e da sociedade brasileira”, disse.

Da política internacional para a relação com o povo, Lula salientou que a participação e os canais abertos do governo para ouvir as críticas e sugestões é o que fazem a diferença em um governo. “A melhor coisa do governo é a relação com as pessoas. Ponte, viaduto todo mundo faz igual, a diferença é a aliança com o povo, a crença de que nós podemos fazer a diferença. Os ricos não precisam do governo, quem precisa é a parte pobre da população e o Estado tem que governar pra ela.”

Lula ainda arrancou risos com brincadeiras com a rivalidade Grenal, fez piada da maneira como a grande mídia retrata o Brasil e apostava que ele e Dilma se desentenderiam assim que ela assumisse o poder. Para encerrar, convidou a plateia a uma reflexão. “No dia em que vocês acordarem com alguma dúvida sobre o que o PT fez nesse País, feche os olhos e imagine o que seria desse País sem os 10 anos de PT.”

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“Temos a marca do respeito pelos outros
países. Países com maior força precisam
ser mais generosos, é o que eu chamo de
princípio ‘Lula da Silva’ nas relações
internacionais”

A presidenta Dilma iniciou sua fala elogiando a militância gaúcha pelos 33 anos do PT e pela presença que tem no governo e na construção da última década. Dilma também abordou a questão internacional e disse que esse é um dos setores em que fica mais evidente o quanto o país avançou. “Os ganhos que tivemos com nosso reposicionamento internacional são muitos e importantes. Exemplos disso são a escolha do diplomata brasileiro Roberto Azevedo para a direção geral da OMC e a eleição do ex-ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano da Silva para comandar a FAO são exemplos claros do nosso protagonismo no cenário internacional”, disse.

Para Dilma, o sucesso na área internacional acontece o Brasil se baseia na concepção de que os relacionamentos devem ser baseados no respeito e repulsa as práticas tradicionais que subjugam os outros países. “Temos a marca do respeito pelos outros países, reconhecemos as necessidade de benefícios mútuos. Países com maior força econômica e política precisam ser mais generosos, é o que eu chamo de princípio ‘Lula da Silva’ nas relações internacionais”, revelou.

A presidenta salientou que o Brasil hoje dá exemplo e perspectivas. “Somos das vozes que se erguem para dar ao mundo um caminho. A visão que se tem é mais realista, pois percebem o imenso potencial que temos aqui. Nos respeitam também pelo fato de que, durante o período de crise, fomos o país que mais criou empregos no mundo”, exemplificou. Dilma também negou os boatos sobre a fragilidade da Petrobras. Segundo a presidenta, o leilão realizado pela Agência Nacional do Petróleo é uma das evidências de que a petrolífera brasileira continua forte e com confiança internacional.

Dilma encerrou lembrando uma crônica de Luis Fernando Veríssimo escrita durante a composição do governo Olívio, em que descrevia o secretariado e ela era definida como “gaúcha de propósito – nos dois sentidos”. “Isso diz muito sobre o coração e o que se aprende aqui no Rio Grande do Sul. É fundamental teimar e ter posições claras.” Dilma disse ainda que o PT nasceu representando o novo e que, 33 anos depois, ainda o representa.

Por Paula Coruja

Foto João Eduardo

PT Rio Grande do Sul

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