Após Bolsonaro fechar, paralisar obras e atividades e arrendar fábricas de fertilizantes da Petrobras, o Brasil se debate com a dependência de insumos importados. A ponto de o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, ter que pedir ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, licença especial para que o Brasil compre fertilizantes do Irã, que sofre sanções dos EUA desde a Revolução Iraniana de 1979.
França admitiu o contato subserviente em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores (CRE). “Pedi uma garantia de que a empresa possa fazer negócio com a empresa iraniana e não vai ser sancionada depois. O negócio com o Irã normalmente é mínimo em relação a essas empresas. Elas querem todas é poder fazer negócio com a Europa e com os Estados Unidos”, declarou.
O alto preço do desmonte da Petrobras
Em 2006, durante o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o país importava 58% da demanda por fertilizantes de seus agricultores e já produzia 42%, conforme dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas de Fertilizantes (Sinprifert).
Para abastecer o crescente setor do agronegócio e também a agricultura familiar, a Petrobras passou a investir na ampliação do seu setor de Fertilizantes Nitrogenados. Em 2014, a empresa mantinha três fábricas –em Sergipe, Paraná e Bahia.
A obra da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), em Três Lagoas (MS), avançava. Também havia planos de construção de mais três plantas do tipo – uma em Uberaba (MG), uma em Laranjeiras (SE) e uma em Linhares (ES).
Sob pressão máxima do lawfare promovido pela força tarefa da lava jato, a Petrobras abandonou os planos para a área de Fertilizantes Nitrogenados em 2016, durante o governo-tampão do usurpador Michel Temer. Naquele ano, o Brasil já importava 73% de todos os fertilizantes que consumia.
Hoje, as unidades do Nordeste estão arrendadas para a Proquigel, do Grupo Unigel, e a do Paraná está parada, ou “hibernada”, como dizem os comunicados da Petrobras. A obra da UFN III foi interrompida em 2015, já 80% concluída, sob a alegação de superfaturamento – o que nunca foi demonstrado. Agora, a gestão bolsonarista da Petrobras, ironicamente, negocia a venda da unidade para um grupo russo (Acron).
“Ele fechou a Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) no Paraná, não concluiu a fábrica do Mato Grosso do Sul e paralisou atividades em outras duas fábricas, uma em Sergipe e outra na Bahia, para depois arrendá-las”, acusa o petroquímico Gerson Castellano, diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em entrevista ao Portal da CUT.