Ato pela Terra

Brasil terá protestos contra Pacote do Veneno em todas as regiões

Frente se fortalece e organiza atos de Norte a Sul do país a partir da próxima terça-feira (29)
Brasil terá protestos contra Pacote do Veneno em todas as regiões

Foto: Alessandro Dantas

Mais de um terço de todos os agrotóxicos utilizados no Brasil foram aprovados pelo atual governo, que agora se empenha em mudar lei de 1989, que regula o setor, para facilitar ainda mais a liberação desse tipo de produto. O PL do Veneno (PL 6.299/2002) faz parte de um conjunto de propostas apoiadas pelo governo – o Pacote do Veneno – que inclui a legalização da grilagem de terras (PLs 2.633/2020 e 510/2021) e a invasão de áreas indígenas para atividades como o garimpo (PLs 490/2007 e 191/2020).

O combate ao Pacote do Veneno, por outro lado, cresce. Depois do Ato pela Terra, que no início do mês reuniu dezenas de artistas e centenas de organizações da sociedade em Brasília, a Campanha avança para mobilizações regionais, marcadas para o final de março (dia 29, no Sudeste) e todo o mês de abril (dia 5, no Sul; dia 12, no Centro-Oeste; dia 19, no Nordeste; e dia 26, no Norte). Elas servirão para organizar ações nos estados contra esses projetos.

Já no Senado, está em preparação um seminário, por iniciativa da senadora Zenaide Maia (Pros-RN), para distribuir o “Dossiê contra o Pacote do Veneno e em defesa da vida” aos parlamentares.

Os males do PL do Veneno foram abordados, também, em artigo do senador Rogério Carvalho (PT-SE) à revista Focus. Entre eles, o risco de graves retrocessos na regulação do setor, uma vez que o projeto retira dos órgãos da saúde e do meio ambiente a prerrogativa de analisar esses processos.

“É a Anvisa, por exemplo, que estabelece os equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados pelos trabalhadores rurais na aplicação e no manejo de um agrotóxico e os limites máximos de resíduos permitidos em alimentos. O Ibama realiza atividades como a verificação do uso de agrotóxicos em diversos ecossistemas e a classificação quanto ao potencial de periculosidade ambiental”, lembra o senador, médico e doutor em Saúde Pública.

Com essas regras, ressalta Rogério Carvalho, o Congresso criou, na época, “um colchão protetivo, em que um agrotóxico só pode ser utilizado se comprovar eficácia agronômica, mas também se não destruir o meio ambiente, se for seguro para os trabalhadores rurais e não contaminar os alimentos ou deixar resíduos em quantidades tóxicas para os consumidores”.

O projeto, já aprovado na Câmara, centraliza o processo de liberação ao Ministério da Agricultura. Um absurdo, na opinião do senador. “É evidente que isso enviesa o debate em favor exclusivo dos interesses do agronegócio e dos fabricantes de agrotóxicos, como aponta o temerário mecanismo de registro temporário, previsto no projeto de lei”.

Na opinião de Rogério Carvalho, essa mudança pode trazer, como reflexo, o aumento da incidência de doenças e mortes. “De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os agrotóxicos causam, em países em desenvolvimento, 70 mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito por ano. Outros 7 milhões de casos de doenças agudas e crônicas não fatais estão relacionados a esses produtos. É ampla a literatura científica que associa agrotóxicos ao desenvolvimento de câncer, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças, entre outros”, anota o senador. Com a crescente liberação desses venenos nos últimos anos, um terço dos agrotóxicos utilizados no Brasil inclui alguma substância proibida pela União Europeia.

Foto: Alessandro Dantas

Rogério Carvalho conclui com um apelo para que se concilie o desenvolvimento agronômico à preservação da saúde e do meio ambiente. “O Brasil não pode ser refém de um agronegócio ultrapassado e predatório, que não tem qualquer compromisso com a preservação da vida e com as gerações futuras”.

Essa é a opinião também do presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), para quem o PL do Veneno desmonta a regulação do setor e coloca mais agrotóxicos na mesa dos brasileiros.

“Claramente prioriza os interesses econômicos e põe em risco toda a sociedade, com repercussões de curto, médio e longo prazos, tanto para as gerações atuais quanto futuras”, avalia o senador, que é autor de uma proposta que busca a harmonia reivindicada por Rogério Carvalho.

O projeto (PL 3.668/2021) de Jaques Wagner firma um marco jurídico para a produção de bioinsumos, ou insumos biológicos, que são produtos feitos a partir de microrganismos, materiais vegetais, orgânicos ou naturais e utilizados nos sistemas de cultivo agrícola para combater pragas e doenças, além de melhorar o solo. A matéria está, atualmente, em análise na CMA.

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