O Brasil deverá “crescer de forma robusta no médio prazo, com o aumento do PIB previsto para a média de 4,3% ao ano”, projeta o relatório divulgado nesta sexta-feira (6), em Roma, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Segundo o estudo, emergentes como China e a Índia — que devem continuar a “crescer a um impressionante ritmo de 7,6% a.a e 6,7% ao ano, respectivamente”—continuarão a “ser os líderes do alto crescimento, com perspectivas de expansão substancial de seus mercados”.
China, Índia e Brasil serão, segundo o relatório, os principais motores da economia mundial.
O relatório da OCDE-FAO Agricultural Outlook 2013-2022 prevê que os preços permaneçam acima da média histórica, a médio prazo, tanto para produtos agrícolas como os agricultores, devido a uma combinação de crescimento lento e aumento da demanda de produção, incluindo os biocombustíveis.
O documento projeta que “diferenciais de inflação entre os Estados Unidos e algumas economias dinâmicas (África do Sul, Brasil e Índia) vão reduzir o valor de suas moedas em mais de 30%, durante a próxima década. O Brasil é, especialmente, grande exportador de muitos produtos agrícolas e uma grande depreciação de sua moeda como essa vai torná-lo um concorrente ainda mais formidável”. Dessa avaliação da OCDE/FAO podemos concluir que a inflação brasileira maior do que a de alguns países importantes vai contribuir para ajustar o câmbio.
Ainda segundo o Relatório, com os preços dos fertilizantes, outros produtos químicos aplicados à agricultura e custos de máquinas agrícolas estreitamente relacionadas aos preços do petróleo, qualquer aumento nos preços do cru deverá se traduzir rapidamente no aumento dos custos de produção. Além disso, alguns insumos, como a água doce, estão se tornando mais escassos. Custos mais elevados da energia e do petróleo e o aumento dos custos de outros insumos tendem a elevar o preço das commodities, devido ao aumento dos custos de suprimentos agrícolas.
Esse aumento irá reduzir a rentabilidade da agricultura de capital intensivo e isso poderá desacelerar ainda mais o crescimento da produção. Ao mesmo tempo, ele provavelmente vai incentivar o crescimento da produção em países com práticas agrícolas menos intensivas e modernas, devido aos maiores retornos líquidos, tais como na produção de leite e carne à base de pasto livre. Uma exceção, destaca o Relatório, poderá ocorrer em países como os Estados Unidos e o Brasil, nos quais a depreciação da taxa de câmbio vai ajudar a compensar algumas dessas desvantagens de custo e preservar a competitividade de sua produção agrícola nos mercados mundiais.
Diante dessa avaliação da FAO/OCDE, é importante lembrar também que além da eventual depreciação do câmbio, o Brasil tem ampla disponibilidade de terras agricultáveis, uma raridade no mundo, e água doce em abundância, outro diferencial raro.
O Relatório também destaca que “crescente produção de etanol no Brasil está ligada à demanda doméstica da crescente frota de veículos flex e às exportações para os Estados Unidos, país que precisa cumprir uma legislação avançada na utilização de biocombustíveis. A produção de bioetanol em países em desenvolvimento está projetada para aumentar em mais de dois terços até 2022, com o Brasil respondendo por 80% do aumento da oferta, e grande parte do restante vindo da Índia e da China”. Se as barreiras à importação do etanol brasileiro fossem levantadas, a participação do Brasil nesse mercado poderia ser muito maior.
O estudo da FAO/OCDE projeta que a América Latina, particularmente o Brasil, continuará a ser um importante centro de crescimento da produção agrícola e deverá ser acompanhada pela Europa Oriental, o que converterá essas duas regiões nas mais importantes fornecedoras de mercadorias agrícolas na próxima década. Do lado das importações, as regiões com déficit de alimentos do Oriente Médio, África e Ásia são projetadas para ter o maior crescimento na demanda de alimentos e importações de produtos agrícolas na próxima década, devido ao aumento rápido da população e da renda per capita e do crescimento da afluência e da classe média em muitos países.
Esses fatores estruturais expandirão a participação do Brasil no comércio agrícola. O Brasil deverá se transformar no grande celeiro do mundo.
A União Europeia continuará a ser o maior importador mundial de biocombustíveis em todo o período de projeção, em particular etanol e biodiesel do Brasil e da Argentina. Argentina e Brasil deverão permanecer como os maiores exportadores mundiais de biocombustíveis, com grande expansão das exportações, ao longo do período de projeção.
As disponibilidades de exportação de açúcar estão fortemente concentradas em um punhado de países, com o Brasil dominando o grupo e respondendo por pouco mais de 50% das exportações mundiais em 2022.
Em resumo, a FAO/OCDE projetam para o Brasil um doce futuro.