A migração do sistema de aposentadoria atual, de repartição, mantida com contribuições mensais dos trabalhadores e dos empresários, além de recursos da União, para o de capitalização, sistema onde só o trabalhador contribui, vai custar ao Brasil R$ 954 bilhões em 20 anos.
A informação foi divulgada três meses depois da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 006/2019 da reforma da Previdência chegar ao Congresso Nacional, pelo secretário de Previdência do Ministério da Economia, Leonardo Rolim, em uma audiência na Câmara dos Deputados. Na mesma audiência, o secretário especial de Previdência e trabalho, Rogério Marinho, que não gostou de ver os números divulgados, foi flagrado pela imprensa dando um puxão de orelhas em Rolim.
O motivo é simples. O dado derruba a tese do governo de Jair Bolsonaro (PSL) de que a reforma, que acaba com o direito de aposentadoria de milhões de trabalhadores e trabalhadoras, gera uma economia de quase R$ 1 trilhão. O mercado já havia jogado um balde de água fria nesta previsão. Alguns analistas de mercado, segundo a imprensa, acreditam que a reforma vai economizar ao governo metade do previsto, R$ 600 bilhões. Portanto, menos do que o governo vai gastar para implementar a capitalização que será entregue aos bancos.
Para o economista da Unicamp, Marcio Pochmann , esses números demonstram que a reforma da Previdência não é necessária. O que o mercado financeiro quer com o apoio do governo Bolsonaro é privatizar a Previdência Social. Por isso, o mercado pressiona pela aprovação da reforma, que é o primeiro passo para o governo seguir com a proposta de capitalização.
Segundo ele, o ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, não é transparente em relação a informações sobre a reforma. Os cálculos de quanto o governo vai economizar não levam em consideração o déficit que virá com a capitalização, porque o número de pessoas aposentadas no regime atual de repartição ainda será bem maior do que o de jovens que entrarão no regime de capitalização.
“Se os mais jovens e as empresas não contribuírem com uma parte da aposentadoria dos mais velhos, o déficit na Previdência pública será muito maior”, afirma Pochmann.
A professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil, também diz que o governo precisa mostrar os cálculos que fez para chegar a essa “economia” de um trilhão e dos gastos com a transição entre o atual sistema e a capitalização.
“Os brasileiros estão cansados de receber números sem o governo dizer qual a base de dados, as equações para chegar a esse resultado porque esses números, não têm credibilidade, não têm fundamentos”, critica a economista.