“Eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. (…) Esta história não acaba assim. Estou certa de que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.” Essas palavras foram ditas por Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016, logo após um golpe parlamentar, cinicamente baseado em um impeachment sem crime de responsabilidade, derrubar a primeira presidenta do Brasil, reeleita democraticamente menos de dois anos antes.
Exatos cinco anos depois, Dilma tem clareza não só da necessidade como também da real possibilidade de as forças progressistas voltarem a governar o Brasil. A necessidade vem da urgência de se interromper o golpe, que começou com o impeachment fraudulento, prosseguiu com a prisão injusta de Lula para retirá-lo das eleições de 2018 e continua em curso, atacando os direitos da população, o patrimônio público e a soberania da nação, como analisou em entrevista à revista Focus, publicada no fim de semana.
Já a possibilidade existe graças à união de três forças, analisa a presidenta: a resistência dentro do Congresso Nacional exercida pelo PT e outros partidos de oposição; a luta do povo nas ruas, para ela o elemento central para a vitória; e a comprovação, na Justiça, da inocência de Lula, que recupera assim sua plena capacidade de organizar a reação ao golpe e liderar a reconstrução do Brasil.
“Mais uma vez, o projeto conservador, neoliberal e neofascista só será neutralizado com uma participação efetiva do Partido dos Trabalhadores. Não significa prescindir dos outros partidos progressistas, mas é preciso ter clareza de que depende de nós. Além da importância da luta parlamentar, na arena oficial, a força do nosso partido vem das ruas. Vem da ação, da organização e do diálogo direto com o povo, na cidade e no campo. E o reconhecimento da inocência de Lula é uma vitória da Justiça e da democracia. E abre uma promissora perspectiva para a luta e organização do nosso povo”, analisou Dilma em conversa com o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (PT-RS), transmitida pela TvPT na segunda-feira (30) — assista abaixo.
As razões do golpe
A análise de Dilma é a mesma de Lula, o presidente que, antes dela, colocou o Brasil na trilha da soberania e do combate às desigualdades. Desde que provou sua inocência, Lula busca mostrar o real motivo do golpe — tirar o Brasil do caminho da inclusão social e da soberania, atendendo aos interesses do mercado financeiro e de outros países — e convida a população a lutar para que o país volte para o caminho da inclusão, como fez ao longo de sua viagem pelo Nordeste, entre os dias 15 e 27 de agosto.
No último dia 22, Lula lembrou, durante visita ao Rio Grande Norte, que “nenhum país é soberano se não for capaz de desenvolver todo seu potencial econômico e voltar esse potencial para a geração de empregos e oportunidade para o seu povo”. E foi para, mais uma vez, entregar as riquezas nacionais a outros países e impedir a distribuição de renda que se atacou a democracia do país.
Uma prova do que diz, observou Lula, é o desmonte da Petrobras, patrimônio nacional que está longe de ser uma mera empresa. “A Petrobras não era só uma empresa de petróleo, mas uma empresa com capacidade de investimento. E foi por isso que eles deram o golpe. Porque a gente decidiu que o petróleo do pré-sal seria o passaporte do futuro deste país, que a gente ia investir 75% dos royalties do petróleo em educação, ciência e tecnologia e na saúde. Com a lei da partilha a gente deixou claro que esse petróleo não era para que as multinacionais explorassem, mas era do povo brasileiro”, disse.
Luta que vale a pena
Dilma aponta outra clara evidência da intenção dos que atentaram contra a democracia: o teto de gastos. A primeira medida proposta e aprovada pelo governo golpista de Michel Temer condena o país a investir cada vez menos em áreas como saúde e educação, enquanto garante gastos como pagamento da dívida e de juros. Em outras palavras, o pobre é excluído do orçamento, que passa a existir para benefício exclusivo da elite financeira.
A presidenta, porém, aponta que, mais que tirar o povo do orçamento, o teto de gastos representou um dos maiores ataques à democracia já cometidos no Brasil, porque elimina também a capacidade do povo de decidir quais áreas serão priorizadas. “Afinal, o que se decide numa eleição é onde serão gastos os recursos públicos e a destinação do dinheiro para políticas. Quando se tira essa possibilidade por duas décadas, cinco eleições, o que se faz é invadir a democracia”, analisou.
Em cinco anos, foram muitos os direitos, as riquezas e as vidas destruídas. Reconstruir o Brasil, portanto, dará muito trabalho. Mas essa é uma luta que vale a pena e é possível vencer. “Este país terá a grandeza com que todos vocês sonham no dia em que for soberano. A gente não quer brigar com ninguém, mas a gente quer ter o direito de definir que ar a gente quer respirar sem pedir licença. Valerá a pena a gente lutar e reconquistar a democracia, para recuperar nossa soberania“, disse Lula no discurso do dia 22. “Não há possibilidade de um país crescer e ser forte sem soberania. E soberania significa ter coragem de tomar conta do nosso povo, de defender a educação, a ciência e tecnologia. Significa, efetivamente, a gente tomar conta do nosso país”, acrescentou.