Em recente visita ao Chile, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) reafirmou a profunda identidade de seu pai, Jair Bolsonaro, com representantes do pinochetismo naquele país. Durante a campanha, Bolsonaro, recebeu comitiva da União Democrática Independente (UDI), partido chileno de direita, liderada pela presidente, senadora Jacqueline van Rysselberghe. O general Augusto Pinochet (1915-2006) é responsável pela morte de mais de 40 mil pessoas, entre 1973 e 1990, de acordo com a Comissão Valech.
A visita reforça o que Jair Bolsonaro declarou durante a campanha eleitoral. Na época, o então candidato disse que o Chile seria o primeiro país que visitaria caso fosse eleito. “Este é um compromisso que o presidente (Bolsonaro) assumiu com o presidente (Sebastián) Piñera”, confirmou Onyx Lorenzoni, após a eleição.
Se confirmado roteiro, que inclui na sequência visitar os Estados Unidos e, depois Israel, o novo governo confirma a opção pela política de alinhamento ideológico e desprezo pelo Mercosul e pela tradição brasileira de comércio externo. “A mudança que teve aqui anima todo mundo aí fora porque o Brasil não vai mais fazer comércio com viés ideológico, palavras do presidente Jair Bolsonaro”, disse Bolsonaro filho ao jornal Folha de S. Paulo. Para o economista e ministro da Economia, Paulo Guedes, a “opção” pelo Mercosul foi ideológica, classificando a “aliança” como uma “prisão cognitiva”, em que só se negocia “com gente que tiver inclinações bolivarianas”.
“Entre 2003 e 2017, a Argentina foi o terceiro mercado das exportações brasileiras, totalizando US$ 184,3 bilhões, enquanto o Chile, na sétima posição, somou US$ 51,4 bilhões”.
Os últimos presidentes eleitos visitaram primeiro a Argentina, principal parceiro econômico no Mercosul. A Argentina é o principal destino comercial dos produtos brasileiros, especialmente manufaturados. Entre 2003 e 2017, a Argentina foi o terceiro mercado das exportações brasileiras, totalizando US$ 184,3 bilhões, enquanto o Chile, na sétima posição, somou US$ 51,4 bilhões. O principal destino das exportações brasileiras foi a China com US$ 311,9 bilhões, seguido dos Estados Unidos com US$ 299,4 bilhões.
Em pronunciamento no plenário do Parlasul, em Montevidéu, na primeira semana de novembro, o senador Humberto Costa (PT-PE) alertou para o visível despreparo de Bolsonaro e seu governo. “Nós desejamos que Bolsonaro não faça o que prometeu durante as eleições, porque, se o fizer, a democracia no Brasil e no hemisfério Sul estará comprometida”, disse Humberto.
Após a declaração do ministro Paulo Guedes, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota destacando a importância do Mercosul para o comércio brasileiro. “Pequenas e médias empresas, que exportam mais para esses países, serão as mais afetadas”, advertiu a CNI, defendendo a continuidade e o fortalecimento do Mercosul.
Exemplo nefasto
Espécie de porta-voz internacional de uma das facções internas do atual governo brasileiro, e ministro das Relações Internacionais informal, o filho do chefe do clã Bolsonaro afirmou que Pinochet “impediu que o Chile se transformasse também em uma nova Cuba”. Para Eduardo Bolsonaro, “trinta anos depois o Brasil vai tentar fazer o que o Chile fez nos anos oitenta”, segundo destacou a imprensa chilena, durante sua visita.
O Chile foi o primeiro laboratório das teses neoliberais mais radicais na América Latina, aplicada com participação do economista Paulo Guedes, ministro da Economia do novo governo. Outro feito elogiado pelos atuais governantes eleitos é a reforma da Previdência realizada no que pretendem copiar. Com a reforma, atualmente alvo de protestos, os aposentados chilenos recebem de benefício, em média, de 30% a 40% do salário mínimo local.