Clientes brasileiros do HSBC suiço não são necessariamente criminosos

Fernando Rodrigues( na ponta direita) e Chico Otávio (primeiro à esquerda) falam à CPI do HSBCOs critérios para divulgação dos nomes de brasileiros com contas em agências do HSBC na Suiça foram estritamente jornalísticos. Isso é o que garante o jornalista Fernando Rodrigues do portal UOL, que prestou depoimento na manhã desta quinta-feira (26) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga indícios de ocorrência  de fraude fiscal e evasão de divisas (CPI do HSBC), juntamente com o também jornalista Chico Otávio, de O Globo. Ambos integram o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos que teve acesso ao acervo da instituição financeira copiada por um antigo funcionário do banco. Foi a primeira reunião para tomada de depoimentos da CPI.

Segundo Rodrigues, ele “peneirou” entre os nomes dos mais de oito mil correntistas brasileiros do banco em Genebra, pessoas consideradas relevantes: que  tenham aparecido como envolvidos em grandes investigações (como o escândalo do Metrô de São Paulo, máfia do INSS, Operação Vampiro e outros); que vivem da exposição pública (artistas, intelectuais) e pessoas que tem inserção na política e, segundo o jornalista “dão entrevistas, inclusive sobre questões como a corrupção”.

“É importante esclarecer que a esses nomes, (publicados em seu blog ou no jornal O Globo), não estão sendo imputados quaisquer crimes”, observou, lembrando que não é irregular manter contas correntes, mesmo que numeradas (sem o nome do titular) em instituições financeiras na Suiça, acrescentou.

Chico Otávio acrescentou que “Ilegal é não declarar esses valores”, disse, e acrescentou que, se não há informação às autoridades sobre esses depósitos, é possível imaginar que os recursos sejam provenientes de operações ilegais, como crime organizado e  lavagem de dinheiro.

Fernando Rodrigues disse ainda que o nome dos clientes reunidos no acervo do Swissleak – como o escândalo foi batizado – é apenas a parte mais visível do problema. “Estamos diante do maior vazamento de dados já ocorrido e ele revela a forma como operam os paraísos fiscais para facilitar ocultação de recursos e evasão de divisas”, observou.

COAF

Ele garantiu ter entregue ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), em setembro do ano passado,  nomes de 342 clientes brasileiros do HSBC. A ideia, segundo ele, era formar uma parceria com as autoridades para que elas fizessem o cruzamento dos dados e apurassem se essas pessoas (físicas e jurídicas) haviam declarado, para fins de Imposto de Renda, os valores depositados no exterior. “Não houve qualquer investigação e esses nomes ainda foram vazados de maneira criminosa pela Receita Federal”, acusou ,exibindo a imagem de um documento que comprovaria o repasse desses dados para a mídia.

“Imaginem o dano causado a esses cidadãos”, indignou-se,  lembrando que duas revistas semanais publicaram as informações, sem se preocupar se os nomes listados eram acusados de alguma irregularidade. Segundo Rodrigues, essa atribuição cabe à Receita Federal (a quem o Coaf é vinculado) e não à imprensa.

Enquanto isso, segundo afirmou, países como Bélgica, Espanha e Reino Unidos já começaram a repatriar os valores depositados ilegalmente na Suiça.O presidente da CPI, Paulo Rocha (PT-PA), disse que é preciso tomar cuidado com as “opiniões” dos depoentes. “Elas não podem controlar o trabalho da comissão”, observou.

Alguns senadores pediram aos jornalistas que fornecessem à CPI a lista com os nomes de todos os brasileiros que mantinham contas no HSBC suíço. Rodrigues explicou que não pode fazer isso, já que há um acordo  de confidencialidade com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.E sugerir à CPI que solicite a relação ao governo francês, que investiga o caso e, aparentemente,  já conseguiu alguma forma de homologar os dados.

Na próxima quarta-feira (1º/04) serão ouvidos o secretário-geral da Receita Federal, Jorge Rachid e o presidente do Coaf, Antônio Gustavo Rodrigues

Giselle Chassot

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