O colunista de economia e negócios do The New York Times, Joe Nocera, não pode ser chamado de petista empedernido. Também não cabe nele o rótulo de ser um militante da esquerda infiltrado no principal jornal dos EUA. Longe disso. Mas Nocera é mais um dos que discordam da seleção de analistas, especialistas e economistas que a grande mídia brasileira contratou para tentar convencer o Brasil que estamos à beira do abismo.
A prova está em seu artigo publicado nesta segunda-feira (20), no principal jornal dos EUA, cujo título é uma pergunta: “O Brasil tem a resposta?”.
Nocera, que esteve recentemente no Brasil, |
Nocera, que esteve recentemente no Brasil, escreve sobre o que viu. “O que é mais impressionante é o número de pessoas da classe média que o País parece ter. Há automóveis por toda parte e engarrafamentos, o que, para mim, é um sinal de que há uma classe média crescente. Significa que as pessoas estão com dinheiro suficiente para comprar automóveis. O que eu vi não era uma ilusão”.
Na sequência, o colunista lembra que o Brasil, graças às políticas sociais que vêm sendo adotadas desde 2003, “é um país que viu cair a desigualdade social na última década e está com queda no desemprego em números recordes – e o crescimento da classe média é bastante impressionante”. Nocera repete um número já conhecido dos brasileiros: nos dez últimos anos, mais de 40 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza, enquanto a pobreza extrema, como diz o governo, foi reduzida em 89%. “A renda per capta continuou crescendo, mesmo quando o PIB desacelerou”, observa.
Mas, para sua surpresa, nas suas conversas com economistas brasileiros o que ouviu foi a opinião uníssona de que as coisas andam mal. A começar pela desaceleração do PIB, cuja recuperação, segundo o que escutou, vai demorar. “Apesar dos enormes ganhos econômicos do País desde o início deste século”, segundo Nocera diz ter escutado, “tem havido muito pouco ganho na produtividade”. A queda do desemprego, também lhe disseram, se explica porque “a economia é terrivelmente ineficiente e está nas mãos do Estado”, e que “a economia está baseada no consumo, mas falta investimento – e assim por diante”. “Minha impressão é de que os economistas brasileiros acreditam que o Brasil teve mais sorte do que bons resultados, e que, agora, a sorte está indo embora”.
Depois dessas impressões, o jornalista norte-americano compara o Brasil com os EUA:
“Nossa economia cresceu 4% no último trimestre de 2013 e, lógico, nossa produtividade subiu vigorosamente. Mas, apesar do crescimento, o desemprego não consegue ficar abaixo dos 7%. Nossa classe média está sendo lentamente eviscerada – graças, em parte, ao crescimento da produtividade. A desigualdade social é um fato nos Estados Unidos, com nossos políticos criticando bastante esse fato, mas incapazes de alterar isso. Isso me fez pensar: qual das economias, realmente, está em melhor situação?
Nocera tenta explicar as diferenças, a partir de um longo e-mail enviado pela presidenta Dilma Rousseff ao professor de Jornalismo da Columbia University, Nicholas Lehman, após a revista The New Yorker ter publicado um longo artigo seu para o Brasil. Nessa carta, ela escreveu: “O objetivo principal do desenvolvimento econômico deve ser sempre a melhoria da condição de vida das pessoas. Não há como separar um conceito do outro”.
“Em outras palavras”, procura traduzir o colunista, “o governo de esquerda do Brasil reconhecidamente não quer perder tempo se preocupando com o crescimento econômico em si, mas sim que ele produza redução da pobreza e crescimento da classe média”. É dessa forma que eles (o Brasil) tem, por exemplo, um salário mínimo alto, e leis que dificultam a dispensa de um empregado que chegou tarde para o trabalho. O governo do Brasil controla o preço da gasolina, porque isso ajuda a ampliar o acesso ao transporte”.
“E o mais impressionante de tudo – pelo ponto de vista norte-americano”, afirma Joe Nocera, “o Brasil tem um programa chamado Bolsa Família, que, na prática, entrega dinheiro para mães que vivem na pobreza. Em troca”, continua, “elas têm de garantir que seus filhos estão indo à escola e utilizam os serviços de saúde. Não há dúvida de que o Bolsa Família tem sido extremamente eficaz na redução da pobreza”.
“Por outro lado”, volta Nocera à comparação com os Estados Unidos, “aqui nos o Congresso apenas se recusou a estender o seguro desemprego, enquanto a lei agrícola prevê um corte em cupons de alimentos . Vários outros programas para ajudar os pobres ou os desempregados foram reduzidos. Mesmo aqueles que se opõem a esses cortes impiedosos acreditam que, uma vez que a economia volte, tudo ficará bem novamente. O Crescimento vai cuidar de tudo. Assim, nos Estados Unidos, que tendem a ver o crescimento econômico menos como um meio para um fim do que um fim em si”.
Ao final, ele resume:
É, naturalmente, possível que a economia do Brasil dê de cara com a parede e perca alguns dos ganhos. Uma nova ênfase no investimento e empreendedorismo, provavelmente, poderia ajudá-lo. Os protestos espontâneos no verão passado foram os resultados da nova classe média que querem o tipo de coisas que a classe média sempre quer: melhores serviços, escolas de melhor qualidade, menos corrupção. Ainda assim, o exemplo Brasil dá origem a uma pergunta que nós não pedimos o suficiente neste país:
Qual é o ponto de crescimento econômico, se ninguém tem um emprego?
E – ao contrário da prática adotada por aqui – é muito cuidadoso com o que escreve, não se furtando, inclusive, a ouvir os mesmos economistas que alimentam pessimismo sobre o futuro do País e que tem como porta-vozes os mesmos críticos que todos os dias estão nos jornais e na televisão para tentar nos convencer que estamos à beira do abismo.
Fonte: The New York Times