Em discurso impecável no Plenário da Câmara, Lula tomou posse neste domingo (1º) para seu terceiro mandato de presidente da República com a mensagem de esperança a um povo açoitado e de reconstrução de um país deixado às traças. Trinta minutos bastaram para o novo presidente recolocar o Brasil de volta ao trilho da democracia e no rumo do desenvolvimento social e econômico (leia a íntegra aqui).
Lula expôs a situação “terrível” em que se encontra o país e lamentou ter que repetir o mesmo objetivo de 2003, quando assumiu o cargo pela primeira vez.
“Vinte anos atrás iniciei o discurso de posse com a palavra ‘mudança’. A mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos constitucionais. A começar pelo direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação. Disse, naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer três refeições por dia. Ter de repetir este compromisso no dia de hoje – diante do avanço da miséria e do regresso da fome, que havíamos superado – é o mais grave sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes”, afirmou.
Agora, a palavra de ordem é reconstrução. “O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação levantou, a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício de direitos e valores nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços”, declarou Lula, levando alívio para uma população atordoada pelo desmando bolsonarista.
Após valorizar a vitória da democracia nas eleições, contra a “maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu” em favor de um projeto de destruição do país, Lula deixou claro não haver espaço para revanchismo. “Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com a verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências. Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!”, exclamou o presidente, sendo interrompido por aplausos do Plenário da Câmara lotado, que entoou ainda o refrão que acompanha Lula há décadas: “Olê, olá, Lula, Lula!”
O compromisso assumido por Lula “começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita”, com foco em resgatar da fome milhões de pessoas e tirar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros.
Medidas imediatas
O discurso histórico deste domingo ficou longe da mera retórica. Lula listou uma série de medidas que pretende tomar nas primeiras horas de governo. Já neste domingo, anunciou, seriam assinadas medidas para reorganizar as estruturas do Poder Executivo para “permitir o funcionamento do governo de maneira racional, republicana e democrática”. Junto com os 27 governadores, serão definidas prioridades para retomar 14 mil obras paradas em todo o país. Lula disse ainda que retomará o Minha Casa, Minha Vida, criará um novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), buscará financiamento e cooperação “para dinamizar e expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, exportações, serviços, agricultura e a indústria”.
“A roda da economia vai voltar a girar e o consumo popular terá papel central neste processo”, resumiu, mencionando a retomada da política de valorização permanente do salário-mínimo, o fim da “vergonhosa” fila do INSS e uma nova legislação trabalhista. “Garantir a liberdade de empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje”, afirmou.
Lula direcionou ainda o discurso para a cultura, mulheres, igualdade racial, ciência e tecnologia, indústria, meio ambiente e biodiversidade, direitos humanos, segurança pública, relações internacionais, comunicação e liberdade de expressão. E concluiu com a esperança de um país mais justo.
“Minha mais importante missão, a partir de hoje, será honrar a confiança recebida e corresponder às esperanças de um povo sofrido, que jamais perdeu a fé no futuro nem em sua capacidade de superar os desafios. Com a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos der reconstruir este país.”