ARTIGO

Com o golpe, fome volta ao Brasil

Presidenta do PT lamenta a volta da fome no país após o golpe de Estado, que trouxe crianças pedintes de volta aos semáforos
Com o golpe, fome volta ao Brasil

Foto: Divulgação

Pouco mais de um ano após a deposição da presidenta Dilma Rousseff, o consórcio golpista que tomou o Palácio do Planalto de assalto conseguiu a proeza de ressuscitar um velho fantasma que pensávamos ter sido erradicado do Brasil: a fome. A crise econômica e a suspensão de recursos para programas sociais estão recolocando o país no Mapa da Fome, posição da qual havíamos nos livrado em 2014, após uma década de políticas inclusivas e voltadas ao desenvolvimento social implantadas pelos governos petistas de Lula e Dilma.

A falta de comida na mesa dos brasileiros é o maior retrocesso da passagem de Michel Temer pela presidência. É reflexo da desastrosa política econômica neoliberal defendida por esse presidente e por seu ministro Henrique Meirelles. Aos olhos dessa dupla, os pobres, os trabalhadores e os aposentados não passam de números e estatísticas. O que se pretende, acima de tudo, é ajustar as contas com o mercado financeiro, à base de juros escorchantes, e com medidas destinadas a atender a uma pequena elite, egoísta e indiferente à desigualdade social. Como diz o presidente Lula, só quem é pobre sabe o que é passar um dia sem comer e ver seus filhos irem para cama com fome.

O relatório sobre a fome foi produzido por um grupo de mais de 40 entidades da sociedade civil, que monitora o cumprimento da Agenda 2030, plano de ação que visa ao desenvolvimento sustentável acordado entre os Estados-membros da ONU. Esse documento será entregue às Nações Unidas na reunião do Conselho Econômico e Social, em Nova York, na próxima semana. E vai provocar mais estragos na imagem do país no exterior, bastante abalada após o golpe parlamentar contra o PT. Afinal, o Brasil de Lula e de Dilma é reconhecido pela adoção de políticas exitosas de combate à miséria e à fome, exportando expertise para nações africanas e atraindo a atenção de especialistas da comunidade internacional em diversas áreas do conhecimento.

Somos um país de 200 milhões de habitantes, com riquezas naturais incomensuráveis, e uma das dez maiores economias do planeta. Nossa desigualdade é crônica, mas nada justifica o descalabro da fome, que trouxe crianças pedintes de volta aos semáforos e à porta de supermercados. Os ajustes defendidos por Temer e Meirelles tiram de quem já tem pouco, mas mantêm privilégios da parcela da população que já tem muito. Após quatro surras eleitorais, os representantes do campo conservador estão desesperados para cumprir à risca a agenda neoliberal defendida pelo PSDB, e a realizar o que o golpe se propôs desde o início: destruir direitos trabalhistas e previdenciários, entregar setores estratégicos a grupos estrangeiros, impedir a regulação dos meios de comunicação, e manter os credores da dívida interna saciados.

No governo de Temer e Meirelles, não há preocupação com os pobres. Mais de um milhão de beneficiários do Bolsa Família foram cortados e o reajuste do benefício foi suspenso no mês passado – segundo eles, por falta de recursos. Os cofres vazios seriam os responsáveis também pela redução do valor investido no Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas públicas e presídios. Se em 2014 e 2015 haviam sido dispensados mais de R$ 500 milhões no programa, em 2016 esse valor passou a R$ 380 milhões e, em 2017, a previsão é de apenas R$ 330 milhões. Resultado da Emenda Constitucional 95, como havíamos alertado, os ajustes recaem mais uma vez sobre o lado mais fraco da população, incapaz de reagir em momentos de turbulência sem o apoio do Estado.

Nosso problema não é de cunho orçamentário, mas de vontade política. Em sua trajetória no Governo Federal, o Partido dos Trabalhadores apostou em uma agenda de desenvolvimento sustentável, que incentivava a circulação de recursos na economia. Após nossas bem-sucedidas experiências, entendemos que o Estado precisa ser um dos maiores propulsores do desenvolvimento econômico e dos investimentos públicos. Não foi por acaso que programas como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda hoje sejam reconhecidos como grandes vitrines petistas. Em nossas administrações, não houve setor que não tenha sido beneficiado por políticas de indução ao desenvolvimento, o que resultou em aumento real de salários, pleno emprego, maior acesso à educação e, nosso maior orgulho, o fim da fome.

E qual é o orgulho dos golpistas? A grande herança de Temer será o pacote de medidas que retira direitos dos trabalhadores e amplia a idade mínima para aposentadoria; ou o congelamento dos gastos com educação e saúde e por duas décadas; a entrega do Pré-Sal a grupos internacionais e a mudança na aplicação dos royalties oriundos dessa atividade; e, por fim, a completa desmoralização internacional do país após o golpe, o que fica nítido em espaços de discussão importante como o encontro dos líderes do G-20. Temer transformou-se em um zumbi a ponto de já cogitarem sua substituição pelo insosso e diminuto Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Ambos não têm autoridade e, menos ainda, legitimidade para fazer reformas de qualquer tipo.

Se estão convencidos da importância dessas mudanças, por que não esperam para apresentá-las em alto e bom som na próxima eleição, quando disporão de tempo e espaço na tevê para explicar isso ao povo brasileiro?

É por esse motivo que a população voltou a olhar com mais atenção para o PT e para o ex-presidente Lula, como atestam pesquisas recentes de opinião. Lula foi muito feliz ao demonstrar que é possível aliar desenvolvimento econômico e justiça social em seus mandatos, contrariando economistas e especialistas do campo tucano. Por isso, o ex-presidente será o grande beneficiado das próximas eleições.

Mais do que qualquer outro candidato, ele sabe de sua responsabilidade com o povo brasileiro. Só Lula é capaz de nos resgatar desse mar de injustiças sociais crescentes que o Brasil se transformou na mão dos golpistas. A imagem de liderança de Lula se consolida rapidamente, mesmo com a implacável perseguição promovida por setores da mídia e do judiciário ao longo dos últimos anos.

Em 2003, no dia de sua posse, Lula disse que estaria satisfeito se sua passagem pelo governo pudesse garantir que cada brasileiro tivesse direito, ao menos, a um prato decente de comida no almoço e no jantar. Promessa cumprida. Ele só não imaginou que seu legado fosse jogado no lixo por uma corja de oportunistas tão rapidamente. Reconduzir Lula à presidência é resgatar a dignidade de milhões de brasileiros. Não só por tudo que representa e será capaz de fazer. Mas também como reconhecimento por sua incansável luta em torno dos setores mais frágeis de nossa sociedade.

Fome nunca mais! Fora Temer, Meireles, Maia!

*Gleisi Hoffmann é senadora e presidenta nacional do PT

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