Questionados por senadores sobre as maiores dificuldades que ainda persistem nos estados e municípios para o enfrentamento da covid-19, os governadores de Maranhão, Piauí e Mato Grosso do Sul e o prefeito de Florianópolis registraram a redução de internações nessas regiões, mas pediram aos senadores reforço para aquisição de vacinas, que, segundo eles, ainda está aquém do que o país necessita.
Os gestores participaram de audiência pública, nesta segunda-feira (10), da Comissão Temporária da Covid-19. Além de solicitarem ao Senado apoio diplomático para liberação do IFA (ingrediente farmacêutico ativo, usado na produção de vacinas) por países que detêm esse insumo, eles pediram atenção na manutenção dos financiamentos e planejamento logístico para assegurar a estrutura da rede de saúde, a fim de evitar novos colapsos no atendimento.
De acordo com o governador do Maranhão, Flávio Dino, decisões equivocadas tomadas no segundo semestre de 2020 estão “cobrando um preço agora”, com atraso na entrega de vacinas e insumos. Ele defendeu a “pluralidade vacinal”, por meio da aprovação de outros imunizantes, em especial a Sputnik V, e pediu apoio nas relações diplomáticas para o envio de IFA ao Brasil, para viabilizar o aumento da produção de vacinas no país. Para Dino, é preciso manter a “normalidade diplomática” com países que são vitais para o provimento de insumos.
“Chega a ser desvairada a ideia de que o Brasil pode e deve criar contendas diplomáticas desnecessárias com grandes fornecedores de insumos, notadamente a República da China. Isso deve ser objeto de plena rejeição, porque é um gesto incompatível com a Constituição Federal e, ao mesmo tempo, gerador de impasses, de problemas de diálogo; cria uma cadeia de má vontade contra o Brasil. E isso pode impactar, sim, o ritmo de vacinação no nosso país”, alertou.
O relator da comissão, senador Wellington Fagundes (PL-MT), reforçou o compromisso do colegiado em trabalhar junto com estados, municípios e governo federal para agilizar o processo de imunização no país.
Representando o Fórum dos Governadores do Brasil, o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias, avaliou que caso o país não intensifique as negociações para ampliar a aquisição de imunizantes e acelerar o Plano Nacional de Imunização (PNI), correrá o risco de, no segundo semestre, ficar isolado economicamente do restante do mundo.
“A expectativa é de que a China, e aqui o Chile, a Argentina, a Bolívia, enfim, vários países no entorno do Brasil ou países desenvolvidos, de economia mais forte, com quem temos uma mais intensa relação, estarão, como eles chamam lá, na lista verde, na lista dos países com elevada imunização. E do outro lado, o Brasil, com baixa imunização. Isso vai dar efeito na desigualdade, nas relações entre os países. Haverá seguramente um cuidado, uma exigência maior de se alcançar um patamar de imunização; [os outros países] não querem trazer para dentro novas variantes, e isso vai causar problemas”, acrescentou Dias.
Sputnik V
Entre as frentes de atuação defendidas pelos gestores, está a intermediação para que o Instituto Gamaleya e o Ministério da Saúde da Rússia apresentem o relatório técnico comprovando a segurança da Sputnik V, conforme exige a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Somente o consórcio de governadores do Nordeste formalizou a compra de 37 milhões de doses da vacina russa. As dúvidas sobre o impasse para a aprovação do imunizante foram levantadas pelos senadores Wellington Fagundes, Eliziane Gama (Cidadania-MA), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Esperidião Amin (PP-SC).
O governador Wellington Dias ainda fez referência a um parecer elaborado por cientistas brasileiros que comprova a eficácia e segurança da Sputnik V. Ele defendeu a análise dessa documentação pela Anvisa.
“O que a gente precisa agora é agilizar uma solução. O que a gente está pedindo é que nesse relatório dos cientistas brasileiros sejam tomadas ad hoc, como permite a RDC 470, para efeito de nova apreciação. E, com base nisso, que a gente tenha, havendo a aprovação desse relatório, certamente é possível haver a licença de importação da vacina, que é o nosso desejo, assim como outras vacinas”, acrescentou.
Estrutura da saúde
Outra preocupação dos gestores é a manutenção das estruturas e investimentos para garantir os atuais atendimentos na rede de saúde pública, assim como ter margem de segurança para uma possível “terceira onda” de contágio pelo vírus. Eles reconheceram que atualmente há uma redução no número de internações nas suas regiões, mas alertaram para os altos gastos com a contratação de profissionais, funcionamento de leitos de UTI e compra de medicação, principalmente o kit intubação.
A rede de saúde do Maranhão, por exemplo, tinha um custo aproximado de R$ 170 milhões por mês. Hoje, segundo Flávio Dino, esse custo fica em torno de R$ 230 milhões. Já Reinaldo Azambuja chamou a atenção para a importância de prever necessidades no atendimento.
“Eu acho que agora a previsibilidade é tudo, por isso sugeri a busca por todos nós de mais vacinas, uma organização dessas atas nacionais de insumos, para a gente regrar preços e poder aderir às atas do Ministério da Saúde, o que facilitaria muito para todos os estados e municípios brasileiros, e a manutenção dos leitos [de UTI]. Mantendo esses leitos com as equipes orientadas, seguras, a gente está se precavendo da possibilidade de uma terceira onda, como foi falado por muitos. Tomara que não venha, mas, se vier, você está com a previsibilidade e com a organização das equipes de saúde responsáveis pela manutenção desses leitos”, disse o governador.