Brasil "Colônia"

Com vácuo de liderança, Brasil tem prejuízo no G20

Além de comprometer relações comerciais, alinhamento incondicional aos EUA pode trazer irreparáveis prejuízos ao país
Com vácuo de liderança, Brasil tem prejuízo no G20

A trégua de três meses na guerra comercial entre China e Estados Unidos pactuada na reunião do G20 significou um recuo norte-americano e uma vitória dos chineses, já que a iniciativa da guerra protecionista foi de Trump. O presidente norte-americano teve de recuar, face às pressões de setores produtivos de seu próprio país, prejudicados com a contraofensiva montada pela China.

Por outro lado, a reunião do G20 evidenciou o absoluto vácuo de representação do Brasil nas negociações entre os países do grupo, com os consequentes prejuízos para a economia nacional.  Quem falou pelo Mercosul foi Macri.

Em meio a isso, destacou-se um brasileiro, Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), que construiu um acordo para manter o “plurilateralismo” nas relações comerciais mundiais, diretriz que desagrada Trump.

O acordo temporário entre Estados Unidos e China prevê, de um lado, que os EUA não elevarão de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses na virada do ano. Por outro, a China aumentará as compras de produtos industriais, agrícolas e do setor de energia, como combustíveis, sem especificar a quantidade.

Tal solução tem poder de amenizar conflitos comerciais mundiais, mas pode trazer feitos negativos para o Brasil, pois resultou em aumento das exportações de soja dos Estados Unidos para a China.

[blockquote align=”none” author=””]”Num primeiro momento, é uma notícia favorável para o comércio mundial, mas gera uma preocupação. A compra maciça de produtos agrícolas dos EUA (pela China) atingirá o Brasil”, afirmou José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).[/blockquote]

Deve-se observar que nada garante que tal trégua se manterá, no médio e longo prazo. Segundo o FMI e a OCDE, a guerra comercial entre China e os EUA poderá fazer recuar significativamente o crescimento do comércio internacional e do PIB mundial.

Além do visível vácuo de nossa liderança nacional, repercutiram no encontro em Buenos Aires as recentes declarações do presidente eleito sobre vários temas relacionados à diplomacia e ao comércio exterior.

Antes de assumir, o clã Bolsonaro e seus ministros atropelaram históricas relações do Brasil com o Mercosul, com países do Oriente Médio, com a União Europeia e com a China. Algumas posições já sofreram críticas dentro do próprio núcleo do governo, mas em diplomacia, e sua contraparte comercial, por vezes o gesto vale mais que a ação concreta.

No encontro do G20, um primeiro impacto negativo das recentes declarações veio do presidente da França, Emmanuel Macron, que criticou a posição do Brasil sobre o Acordo de Paris. Na eleição e posteriormente, Bolsonaro declarou que o Brasil pode abandonar o Acordo de Paris e, ao mesmo tempo, retirou a indicação do país para sediar a COP-25 – a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

No encontro, o presidente Macron deixou claro que a França “não é favorável a que se assinem acordos comerciais amplos com potências que não respeitem o Acordo de Paris e que assim anunciaram”. Em 2017, o Brasil exportou US$ 34,9 bilhões para o bloco de países que integram a Comunidade Econômica Europeia.

Apesar da tensão mundial, o clã Bolsonaro tem acentuado diariamente o alinhamento incondicional aos EUA, o que pode agravar ainda mais as dificuldades ao país.

“Se os chineses quiserem ser duros com o Brasil, ainda mais num momento em que o novo governo dá sinais de que quer maior alinhamento com os EUA, poderá substituir facilmente os fornecedores do produto”, afirmou Monica de Bolle, diretora do Programa de Estudos Latino-americanos da John Hopkins University, em matéria ao jornal O Globo.

“Eles operam como se os EUA tivessem a capacidade de compensar o que a China representa hoje para o Brasil”, afirma o professor de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel, em declaração ao jornal O Estado de S. Paulo. “Esse mundo não existe mais”, concluiu.

* Com colaboração da área técnica da Liderança do PT no Senado.

 

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