Rir é preciso, investigar não é preciso |
Os dois partidos que conduzem a oposição, PSDB e DEM, pediram a abertura de investigações sobre as denúncias que envolvem a Petrobras. Foram atendidos pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. Ao invés de se darem por satisfeitos e participar dos trabalhos iniciados – a pedido deles mesmos – no Senado, passaram a exigir uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (incluindo deputados e senadores). A mudança de rota implicou em três semanas de atraso, mas isso não incomodou os incomodou, levando o líder do PT no Senado, Humberto Costa, a definir com precisão cirúrgica a mobilização da oposição entre uma comissão parlamentar de inquérito e outra. “Quem quer uma CPI mista não quer investigar nada, mas apenas ocupar um palanque para fazer disputa político-eleitoral”, afirmou.
A prova mais contundente de que o objetivo não é outro senão tumultuar é que o objeto da investigação da CPI mista é o mesmo da CPI da Petrobras: a compra da refinaria de Pasadena, no Texas; o lançamento de plataformas “incompletas” ao mar; as denúncias de pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore a funcionários da Petrobras e acusações de superfaturamento na construção de refinarias, entre elas a de Abreu e Lima, em Pernambuco. O presidente da CPMI será o mesmo da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). A vice-presidência será ocupada pelo senador Gim Argello (PTB-DF), tendo o deputado Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara dos Deputados, como relator.
O script da oposição na instalação da CPI, na tarde dessa terça-feira, confirma o que o líder do PT havia apontado um mês antes, com a apresentação de mais de 500 requerimentos, o que vai levar ao que Humberto Costa havia previsto: uma confusão infernal com longas discussões sobre cada um dos pontos a serem votados.
A amostra foi dada assim que a CPI Mista foi declarada oficialmente aberta: quatro horas de debates, acusações de lado a lado, piadas e novas depreciações contra o patrimônio e a história da Petrobras, gerando exatamente o clima esperado pela oposição. Mas nada disso será descrito pelos jornais. Não por acaso, Aécio Neves era o parlamentar mais procurado pela imprensa. Todos queriam ouvi-lo, inclusive a produtora de tevê responsável pela propaganda eleitoral do PSDB. Num entusiasmo incomum, o pré-candidato tucano defendeu que a CPMI tenha sessões durante todo o período da Copa, cinco dias por semana. Logo ele, um dos senadores com o maior número de faltas no ponto de presença do Senado.
Marcello Antunes