Em audiência pública, representantes de movimentos de luta de mulheres negras denunciam tradição sexista e racista no BrasilOs conflitos entre os manifestantes acampados há semanas na frente do Congresso Nacional e as militantes da Marcha das Mulheres Negras foi decisivo para a senadora Regina Sousa (PT-PI). Ela está disposta a falar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e trabalhar para retirar do local o que, segundo ela, não são militantes por uma causa. ”São guardiões do Eduardo Cunha e estão ali para amedrontar”, disse, referindo-se ao presidente da Câmara.
Regina presidiu a audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH), nesta quinta-feira, que debateu problemas como racismo e sexismo que atingem s mulheres negras.
Ainda movidas pelo espírito da Marcha das Mulheres Negras, que reuniu cerca de 30 mil mulheres no Congresso nessa quarta-feira (18), militantes e representantes de organizações de mulheres negras pela igualdade bateram duro na pauta conservadora estimulada e aprovada sob a batuta de Eduardo Cunha (PMDR-RJ). A Cunha, também, elas atribuem a responsabilidade pelos ataques desferidos contra as mulheres em marcha.
Na pauta conservadora a que se referiam as líderes estão temas como a redução da maioridade penal e a comercialização da pílula do dia seguinte, entre outros. Reduzir a maioridade penal, segundo elas, significa encarcerar mais jovens negros, que não dispõem de recursos para lidar com a justiça, como a elite branca, acreditam.
Em relação especificamente à situação das mulheres, elas consideram que a discriminação é uma violência visível. Elas denunciaram o racismo e o sexismo que, segundo acreditam, é visível e reproduzido rotineiramente nos meios de comunicação. Pediram maior participação de mulheres negras no Legislativo (hoje são três deputadas e uma senadora) e em cargos de relevância do Executivo.
Clátia Regina Vieira, que coordenou a Marcha dessa quarta-feira disse que o conservadorismo do Congresso bloqueia avanços sociais dos negros. “Não vamos mudara a realidade das mulheres negras se não tivermos representantes no Legislativo”, afirmou. Segundo ela, a maioria dos parlamentares segue votando medidas racistas e impopulares.
As mulheres negras no Brasil ainda vivem uma situação de inferioridade social, disse a ouvidora-geral da Defensoria Pública do estado da Bahia, Vilma Reis. “Nas 50 maiores empresas públicas e de capital misto no Brasil, não há mulheres negras nas gerências e diretorias”, assegurou.
As participantes da audiência pública também demonstraram preocupação com os altos índices de violência contra as mulheres negras. Segundo o Mapa da Violência de 2015, o assassinato de mulheres negras entre 2003 e 2013 aumentou 54,2%. ”Enquanto nós tivermos uma mulher negra vítima de violência não vamos nos calar”, disse Clátia Regina.
Giselle Chassot
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