O mesmo Conselho de Ética do Senado que há uma semana confirmou o arquivamento de uma representação contra Aécio Neves (PSDB-MG) —flagrado em escutas telefônicas pedindo propina — acatou, na manhã desta quarta-feira, uma denúncia contra as senadoras Ângela Portela (PDT-RR), Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Regina Sousa (PT-PI), Lídice da Mata (PSB-BA) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) por terem ocupado a Mesa Diretora da Casa numa tentativa de abrir uma negociação sobre os pontos considerados mais draconianos na reforma trabalhista.
O presidente do Conselho de Ética, João Alberto (PMDB-AM), que indeferiu “por falta de provas” a representação contra Aécio, em 23 de junho, acolheu a denúncia contra as seis senadoras apresentada por José Medeiros (PSD-MT), para quem a conduta das parlamentares teria “ferido a ética e o decoro”. Medeiros arregimentou 14 apoiadores à sua iniciativa.
Solidariedade
“Aécio, com denúncias gravíssimas, teve o processo arquivado no Conselho de Ética, mas a denúncia contra as companheiras é aceita cinco minutos após a apresentação”, denunciou o senador Paulo Rocha (PT-PA). “Isso não é normal nem é democrático”. Falando da tribuna, na tarde desta quarta-feira (12), Rocha lançou um desafio: se o Senado for cúmplice da perseguição às senadoras, vai ter que assumir o ônus de enquadrar toda a bancada do PT, que ficará solidária às parlamentares: “A Comissão de Ética vai cassar nove mandatos de senadores e senadoras?”
O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) também usou a tribuna para manifestar solidariedade. “Estou indignado. O Conselho de Ética, depois do que fez [livrar Aécio], não tem autoridade moral alguma para prosseguir com esse processo contra as senadoras, que são lutadoras do povo brasileiro”.
Exemplo de resistência
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) dedicou todo o seu pronunciamento desta quarta-feira ao apoio à atitude das senadoras de oposição. “Acusam Gleisi Hoffmann, Fátima Bezerra, Vanessa Grazziotin, Ângela Portela, Regina Sousa e Lídice da Mata de terem envergonhado e manchado a história do Senado, como se a história desta Casa fosse impoluta – ainda mais depois da aprovação da hedionda reforma”.
Ele desmentiu diversos discursos que condenavam o “fato inédito” de parlamentares ocuparem a Mesa Diretora em ato de protesto lembrando o motim protagonizado pela bancada do PSDB—então na oposição ao governo Lula—em 2009, quando ocupou a mesa para forçar a leitura de um requerimento de CPI.
“O que a maioria queria? Queria o silêncio e a passividade quando retiravam dos trabalhadores todos – reafirmo –, todos os seus direitos. Salve a coragem, o desassombro, a firmeza, o atrevimento, a audácia, a grandeza e a generosidade de Gleisi, Ângela, Vanessa, Lídice, Regina, Fátima! Que o exemplo de resistência e de indignidade de vocês, senhoras senadoras, repercuta, frutifique e se espalhe pelo Brasil”, conclamou Requião.