O Brasil chega à 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada nos Emirados Árabes Unidos, com uma certeza inconteste: o mundo voltou a enxergar nosso país como protagonista no cenário internacional e como um player global capaz de mediar avanços importantes para o enfrentamento da crise climática. Sob a liderança do presidente Lula, estamos hoje prontos para construir novas parcerias e acordos, abrir mercados e atrair mais investimentos com foco na construção de um modelo de desenvolvimento mais sustentável.
Nos últimos meses, todos nós sentimos na pele os efeitos das mudanças climáticas. Recordes de calor quebrados dia após dia no Centro-Oeste e no Nordeste, chuvas e tufões em cidades no Sul, deslizamentos de terra no Sudeste e secas nunca antes vistas no Norte. Não há um brasileiro que não tenha percebido o impacto dessa crise no seu cotidiano em 2023.
Da mesma forma, não dá para ignorar o fato de que os eventos climáticos extremos castigam, sobretudo, os bairros mais pobres, com infraestrutura precária ou deficiente. A crise do clima aprofunda as desigualdades. Lembro de visitar o sul da Bahia entre o fim de 2021 e as primeiras semanas de 2022, e de ver pessoas paupérrimas perdendo seus patrimônios, destruídos pelas águas das chuvas e das enchentes.
O momento em que vivemos é crítico. E as escolhas que faremos na COP28 terão impactos sobre um mundo que, lamentavelmente, segue obedecendo a uma lógica que aprofunda cada vez mais as desigualdades. Um estudo publicado pela revista Nature Communications estima um prejuízo anual de 143 bilhões de dólares, entre 2000 e 2019, em decorrência das mudanças climáticas. Desse total, 63% são “custos humanos monetários”, como destruição de casas e equipamentos, tratamentos de saúde e, infelizmente, perda de vidas. Foram registradas mais de 60 mil mortes durante esse período. Ainda de acordo com o estudo, as ondas de calor no Brasil aumentaram cem vezes, o que parece se confirmar com as notícias de recordes de temperaturas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A Deloitte, uma das principais empresas de auditoria do mundo, segue na mesma linha, projetando que, se os padrões de emissão de carbono atuais forem mantidos, até 2070 a economia mundial vai perder 178 trilhões de dólares (mais de 840 trilhões de reais). Há, ainda, uma divisão econômica, como mostra o relatório Igualdade Climática: Um Planeta, da Oxfam, segundo o qual as emissões de carbono do 1% mais rico do mundo são equivalentes às dos 66% mais pobres.
Segundo a ONU, o planeta está a caminho do aquecimento de 3°C até o fim deste século. Já atingimos globalmente 1,4°C, apontando que as nações precisam cortar 22 bilhões de toneladas de carbono equivalente até 2030. Esse valor equivale à soma das emissões de China, EUA, Rússia e Japão, os maiores poluidores do planeta.
É diante deste cenário que chegamos à COP28. Os desafios ambientais estão sobre nós como nunca antes e, neste ano, as negociações precisam avançar de maneira categórica e efetiva. Precisamos não apenas cumprir promessas antigas, mas também estabelecer novos acordos, visando um financiamento climático acessível e disponível aos países em desenvolvimento.
Outro aspecto importante é entender como cada bloco se posicionará sobre a criação do Fundo de Perdas e Danos, aprovado na última edição pelos países em desenvolvimento. Contrária ao fundo, a União Europeia busca, agora, um acordo sem precedentes para eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis. Esse tópico é sensível, já que os investimentos dos países do G20 em combustíveis fósseis atingiram o recorde de 1,4 bilhão de dólares em 2022, o dobro dos níveis da pré-pandemia.
Cerca de três quartos dos subsídios ao setor energético foram para carvão, petróleo e gás. Aproximadamente, 1 bilhão de dólares foi destinado aos consumidores, numa tentativa de protegê-los contra a crise dos preços de energia de 2022 provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que catapultou o investimento em combustíveis fósseis para novos níveis.
Seja pelo debate sobre aquecimento global, seja pelos indicadores científicos que mostram um futuro trágico, esta COP28 é mais que essencial. Temos a urgente missão de construir um pacto global para proteger a natureza e erradicar as desigualdades. Este é um desafio histórico que se tornou inadiável e a conferência em Dubai chega como uma valiosa oportunidade para que o Brasil e o mundo possam enfrentá-lo.
Artigo publicado no site da Carta Capital