CPMI do Golpe

Coronel nega responsabilidade, mas coloca sob suspeita segurança do DF em 8/1

Em depoimento à CPMI do Golpe, Jorge Eduardo Naime diz causar “estranheza” Secretaria do DF não acionar gestão de crise no dia dos ataques

Jorge Eduardo Naime

Coronel nega responsabilidade, mas coloca sob suspeita segurança do DF em 8/1

Um dos presos por suspeita de facilitar os ataques contra os prédios dos Três Poderes será ouvido nesta segunda-feira (26/6) pela CPMI do Golpe: o coronel da PM do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime. Foto: Alessandro Dantas

Durante os atos de 8 de janeiro, a Secretaria de Segurança Pública do DF deveria ter acionado um gabinete de crise. O motivo? Parte do comando das forças de segurança locais tinha informações de que haveria tentativa de invasões de prédios públicos. A informação foi dada nesta segunda-feira (26/6), à CPMI do Golpe, pelo coronel Jorge Eduardo Naime, que era chefe de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal no dia dos ataques golpistas aos Três Poderes.

No dia da violência coordenada, milhares de bolsonaristas conseguiram invadir o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Isso sem qualquer resistência das forças de segurança do DF.

“O que me causa estranheza é que no dia 7, às 10h, a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] informa claramente que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos. Se essa informação chegou a nível de secretário e comandante-geral (da PM do DF), eles não tomaram as providências”, disse Naime. O militar admitiu problemas na condução das ações das forças de segurança do DF, mas tentou se esquivar de qualquer responsabilidade.

O coronel lembrou que Fernando de Sousa Oliveira, secretário em exercício no lugar de Anderson Torres – que estava de férias nos Estados Unidos –, passou “praticamente a tarde inteira” informando ao governador do DF, Ibaneis Rocha, que estava “tudo bem”. “Causa estranheza ter uma informação precisa às 10h da Abin e o secretário sequer acionou o gabinete de gestão de crise”, declarou o coronel.

Jorge Eduardo Naime chegou a tentar faltar à audiência da comissão. Ele chegou ao Senado munido de um atestado médico para apresentar ao colegiado, mas, após pedido de que passasse por uma avaliação de uma junta de profissionais do Senado, acabou decidindo comparecer e falar.

Naime era comandante do Departamento de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) e está preso devido à suspeita de negligência em sua atuação nos atos golpistas do 8 de janeiro.

Acampamento golpista

O acampamento em frente ao QG do Exército, em Brasília, vem sendo apontado como a base para o planejamento dos atentados do dia 8 de janeiro. As reuniões no local, inclusive, eram de conhecimento de Naime. Segundo ele, informantes no local disseram que apoiadores de Bolsonaro haviam sido autorizados a entrar no Palácio da Alvorada.

Durante a oitiva, o coronel disse ter ido pessoalmente ao Palácio da Alvorada para ver o que estava acontecendo por lá após os atos que destruíram carros e ônibus no centro de Brasília do dia 12 de dezembro – quando Bolsonaro ainda era presidente. Ele afirmou ter sido agredido, na época, por militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) bolsonarista.

“Me desloquei para ver o que estava acontecendo e acessei a área que todas as pessoas estavam acessando. Estava devidamente fardado, com viatura caracterizada, acompanhado de um patrulheiro. Fui impedido pelo GSI de entrar, um soldado do GSI chegou quase a me agredir, tocou em mim, bateu no meu peito. Já veio de imediato uma equipe do GSI acompanhada de vários manifestantes, que proferiram várias palavras de baixo calão contra minha pessoa”, denunciou.

Durante a audiência desta segunda-feira, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que o acampamento era uma “incubadora de atos”. “Havia ainda uma turba no local, que foi usada exatamente para tentar fazer com que o processo democrático fosse destruído no Brasil. A ordem vinha de cima, do presidente Jair Bolsonaro”, acusou.

Assim como Correia, o deputado Rubens Júnior (PT-MA) também destacou que integrantes que se dirigiram do acampamento à Esplanada no dia 8 possuíam táticas de guerrilha, como já havia afirmado o coronel Jorge Eduardo Naime.

“Cai uma narrativa que era uma manifestação de velhinhas de 90 anos de idade. Não, não era. Era algo organizado, financiado e com algumas pessoas que tinham técnicas de guerrilha”, criticou o petista.

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