Foto:EBC Giselle Chassot 03/01/2017 – 16h30 Pela primeira vez em 14 anos, o salário mínimo não terá reajuste real. Embora prevista no Orçamento Geral da União (OGU) para 2017, a correção anunciada pelo governo ilegítimo de Michel Temer apenas reporá a variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). É o fim da bem-sucedida política de aumento real do mínimo, implementada pelos governos petistas e que garantiu que trabalhadores brasileiros tivessem ganhos salariais acima da inflação por quase 14 anos. Ao longo do período, o mínimo cresceu 77,17%. Em abril do ano passado, o novo valor proposto ao Congresso por meio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) era de R$ 946. Mas o salário estabelecido em decreto por Temer é de R$ 937. Os R$ 57 de aumento em relação ao valor de 2016 (R$ 880) apenas compensa os 6,47% que a inflação engoliu em 2016. “Se a mesma regra aplicada pelo governo Temer estivesse em vigor desde 2002 (ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse), o salário mínimo em dezembro seria de R$ 531 em vez dos R$ 880 que estiveram em vigor até agora, explica Antônio Augusto de Queiroz – o Toninho do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Especializado em passar o pente fino sobre as ameaças aos direito dos trabalhadores brasileiros, Toninho diz que, sem a garantia de reajustes reais, os trabalhadores das classes menos favorecidas teriam perdido um terço de suas rendas. 2017 representa, portanto , o fim da era de reajustes reais e aproximação entre as rendas dos mais pobres e mais ricos. A política de valorização do salário mínimo, que é considerada um dos mais marcantes legados petistas, está extinta. “Ao menos enquanto este grupo de visão liberal e calculista estiver no poder, não vejo chance de que essa nova política se altere”, diz o especialista. Para ele, a mudança na aplicação da lei que assegura a correção do mínimo pela inflação do ano anterior, medida pelo INPC e pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos anteriores é “um retrocesso monumental”. Apesar da modificação, a lei que estabelece as normas para o reajuste valem até 2019. Sucesso Em nota divulgada nesta terça-feira (03), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) ,reconhece o sucesso da política conquistada pelos trabalhadores durante os governos do PT. “Esta sistemática se mostrou eficiente na recuperação do valor do salário mínimo e é reconhecida como um dos fatores mais importantes no aumento da renda da população mais pobre e marca o sucesso de uma luta que promoveu um grande acordo salarial da histórias do país”. diz o texto. A nota técnica também recomenda que a valorização do salário mínimo prossiga, uma vez que ela “induz a ampliação do mercado consumidor interno e, em consequência, fortalece a economia brasileira. Deve continuar sobretudo porque o país segue profunda e resistentemente desigual. A desigualdade de renda se manifesta de modo explícito tanto na comparação entre indivíduos e famílias quanto entre trabalho e capital” ,alerta. Quando analisam os avanços dos governos petistas, economistas não ligados ao governo atual dizem que a política de valorização do salário mínimo assegurou o crescimento da renda dos trabalhadores.”Houve uma enorme valorização do nível de renda desse pessoal e isso foi mais favorecido com a formalização das relações de trabalho, com a formalidade que grande parte de trabalhadores não tinha”, disse o professor da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli, à Agência Brasil. Também economista, Francisco Lopreto calcula que 40 milhões de brasileiros ascenderam de classe. “Esse é o aspecto mais importante da gestão petista. Rompeu a reprodução da miséria do Brasil tradicional”, afirma”. Tudo isso favoreceu o crescimento de uma nova classe média, que criou um mercado consumidor novo e interessante. Foi ele que dinamizou a economia. Isso tudo está ameaçado agora por uma política que ameaça justamente os desfavorecidos. Vale lembrar que o plano do governo do PMDB de desvincular a correção dos reajustes de aposentadorias, pensões e benefícios sociais da Previdência Social do índice aplicado ao mínimo promete achatar ainda mais os ganhos dos mais desfavorecidos. Ou seja, poderemos voltar a ter, no Brasil, quem receba menos que um salário mínimo. “2017 será um ano divisor de águas para os trabalhadores. Ou o movimento impõe a sua luta nas ruas, exigindo a manutenção dos seus direitos e o crescimento do país, cobrando senadores e deputados, ou será aniquilado pelo tsunami do governo federal”, alertou o senador Paulo Paim (PT-RS) em artigo publicado recentemente. Confira o valor do salário mínimo desde 2000:
Data de aprovação | Resolução que o aprova | |
01.01.2017 | R$ 937,00 | Lei nº 13.152/2015 |
01.01.2016 | R$ 880,00 | Decreto 8.618/2015 |
01.01.2015 | R$ 788,00 | Decreto 8.381/2014 |
01.01.2014 | R$ 724,00 | Decreto 8.167/2013 |
01.01.2013 | R$ 678,00 | Decreto 7.872/2012 |
01.01.2012 | R$ 622,00 | Decreto 7.655/2011 |
01.03.2011 | R$ 545,00 | Lei 12.382/2011 |
01.01.2011 | R$ 540,00 | MP 516/2010 |
01.01.2010 | R$ 510,00 | Lei 12.255/2010 |
01.02.2009 | R$ 465,00 | Lei 11.944/2009 |
01.03.2008 | R$ 415,00 | Lei 11.709/2008 |
01.04.2007 | R$ 380,00 | Lei 11.498/2007 |
01.04.2006 | R$ 350,00 | MP 288/2006 |
01.05.2005 | R$ 300,00 | Lei 11.164/2005 |
01.05.2004 | R$ 260,00 | MP 182/2004 |
01.04.2003 | R$ 240,00 | MP 116/2003 |
01.04.2002 | R$ 200,00 | MP 35/2002 |
01.04.2001 | R$ 180,00 | MP 2.142/2001 |
03.04.2000 | R$ 151,00 | Lei 9.971/2000 |