Lava Jato

Corregedor deu bronca, mas perdoou “conduta grave” de Dallagnol

Procurador anunciou revelações "em primeira mão" para aumentar público de palestra
Corregedor deu bronca, mas perdoou “conduta grave” de Dallagnol

Foto: Agência Brasil

Em mais uma reportagem da série Vaza Jato, novos diálogos revelam que o procurador Deltan Dallagnol cometeu falta grave na divulgação de palestras e que seu plano de ganhar dinheiro com a promoção da Operação Lava Jato foi criticado dentro do próprio Ministério Público. Segundo a reportagem, publicada nesta quinta-feira (8) pelo jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept Brasil, em julho de 2017 o então corregedor-geral do Ministério Público Federal, Hindemburgo Chateaubriand Filho, criticou a conduta de Dallagnol. Mas a bronca foi apenas informal e o corregedor deixou de cumprir sua função e não abriu apuração oficial.

As mensagens são reproduzidas com a grafia encontrada nos arquivos originais obtidos pelo Intercept, incluindo erros de português e abreviaturas

O caso envolveu a divulgação, feita em sua página pessoal no Facebook em 1º de julho de 2017, de uma palestra dele na qual prometia revelações inéditas sobre a Lava Jato e que teria cobrança de ingresso dos participantes.

O post convidava para um evento intitulado “Operação Lava Jato – Passado, presente e futuro – A Lava Jato na visão de quem está no olho do furacão”, que seria realizada na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) na noite de 4 de julho daquele ano. Porém, o post de Deltan trazia a promessa da revelação de informações inéditas sobre a Lava Jato: “Venha conhecer pessoalmente os procuradores da Lava Jato em Curitiba e ficar por dentro do que está acontecendo na operação – em primeira mão!!”.

Esse texto causou polêmica no Ministério Público, e o procurador Vladimir Aras chegou a enviar a Deltan uma lista com críticas de outros colegas. “Virou atração circense A Corregedoria devia suspender Os tentáculos da vaidade e do estrelismo podem agarrar os colegas sutilmente (ou nem tão sutilmente assim)”, afirmou um dos procuradores.

“Se eu estivesse do outro lado do balcão faria a festa com esse “Xow do Deltan”!”, escreveu outro crítico.

Após reproduzir os ataques ao colega, Aras então aconselhou a Deltan: “Sei que o evento é beneficente e vc tem o melhor propósito. Mas procure evitar a monetização da Lava Jato, ainda que indireta”.

Alguns dos procuradores chegaram a contatar o corregedor-geral para reclamar. Na tarde do dia marcado para a palestra, Deltan foi avisado que Hindemburgo estava muito irritado com o teor da divulgação e foi aconselhado a ligar para o fiscal dos procuradores.

Hindemburgo reprovou a conduta de Deltan, que foi obrigado a alterar o teor da publicidade da palestra. “Ao contrário de vcs [integrantes da Lava Jato], todos q se encontravam na reunião discordaram da atitude. É éramos vários. Além deles, recebi de outras pessoas tb em tom de severa crítica. Lembre-se q vcs falam na condição de interessados. O q eu lhe disse é q do jeito q estava apresentado o post, o anúncio era o da venda de informações em primeira mão sobre a lava jato. Era o mesmo q chamar uma entrevista coletiva e cobrar entrada, pouco importa a destinação do dinheiro. Isso para mim seria bastante grave, independentemente do q vcs pensam”, disse o corregedor-geral.

O caso ficou por isso mesmo.

Confira a íntegra da matéria

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