Jair Bolsonaro não tem mais como negar que é corrupto há muito tempo, bem antes de ser flagrado ajudando empresários aliados a vender mais cloroquina ou participando de roubalheira com vacinas. Em conversas gravadas entre 2018 e 2019, e divulgadas nesta segunda-feira (5) pelo site UOL, uma ex-cunhada do atual presidente e a mulher e a filha de Fabrício Queiroz deixam claro que Bolsonaro roubou dinheiro público nomeando assessores que tinham de pagar a ele quase tudo que recebiam de salário. E mais: segundo o site, Bolsonaro era chamado de “01” do esquema que envolvia também seus filhos. Esquema tão grande que está mais para Rachadão do que para Rachadinha.
As gravações têm grande valor como prova porque não se tratam de declarações dadas à jornalista Juliana Dal Piva, autora da reportagem. Os áudios são de conversas que as três mulheres tiveram com conhecidos delas e só agora vieram à tona. No trecho mais incriminador (ouça no vídeo abaixo), a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina Siqueira Vale, segunda mulher de Bolsonaro, conta como o irmão das duas foi demitido por Bolsonaro porque não repassava todo o valor que havia sido combinado.
Esse irmão é André Siqueira Vale, que, entre 2006 e 2007, foi assessor de Bolsonaro quando este era deputado federal. “O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’”, conta Andrea a um interlocutor, cuja identidade não é revelada pelo UOL para protegê-lo.
Mais um coronel envolvido em falcatruas
Em outro trecho, Andrea confessa que também participou do Rachadão dos Bolsonaros quando foi assessora de Flávio na época em que ele estava na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo o UOL, o total a ser devolvido chegava a 90% do salário. “Eu ficava com mil e pouco e ele ficava com R$ 7 mil”, diz.
Ela também revela que um tio dela, o coronel da reserva Guilherme Hudson, era responsável por recolher o dinheiro dos funcionários. Segundo afirma a reportagem, o coronel Hudson foi colega de Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) nos anos 1970. Conta o UOL: “Ele (Hudson) constou como assessor de Flávio na Alerj, de junho a agosto de 2018. No entanto, pessoas ouvidas pela coluna contam que ele era conhecido há anos como funcionário da família Bolsonaro e sempre transitou junto ao clã”.
Jair, o 01
Em outra gravação, é possível ouvir uma conversa entre a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, em outubro de 2019, quando o ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj estava escondido na casa do advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef. O áudio é importante porque, segundo a reportagem, Márcia deixa claro que o comandante de todo o esquema era Jair Bolsonaro, chamado por ela de “01”.
“É chato também, concordo. É que ainda não caiu a ficha dele (de Queiroz) que agora voltar para a política, voltar para o que ele fazia, esquece. Bota anos para ele voltar. Até porque o 01, o Jair, não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio, mas enfim não caiu essa ficha não. Fazer o quê? Eu tenho que estar do lado dele”, diz a mulher do ex-assessor.