Já existe um inquérito civil, aberto há duas semanas pelo Ministério Público Federal (MPF), que investiga a responsabilidade de Bolsonaro e seus auxiliares na tragédia humanitária que assola o povo yanomami. Mas a investigação deve ganhar novo capítulo com a descoberta de que o ex-presidente foi alertado mais de uma vez sobre a grave desnutrição nessas aldeias e, na contramão do senso de humanidade, mandou cortar essa população de cerca de 28 mil pessoas do programa Ação de Distribuição de Alimentos a Grupos Populacionais Tradicionais (ADA), então coordenado pelo Ministério da Cidadania. A revelação foi publicada pelo portal UOL.
Ao menos dois órgãos demandaram o governo Bolsonaro para manter a assistência alimentar a esses povos, uma ação iniciada em 2017 por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) enviou dois ofícios ao Ministério da Justiça, em junho de 2021 e fevereiro de 2022. Nos documentos, os técnicos primeiro alertam sobre a fome entre os yanomami e, depois, sobre o corte dessa assistência alimentar, pedindo sua retomada. A Procuradoria da República em Roraima igualmente enviou ofício solicitando o envio de cestas básicas a esses povos. Nada feito. O governo Bolsonaro não respondeu aos pedidos e cortou o benefício.
Múltiplos alertas
Em julho do ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) oficiou ao governo federal cobrando a retirada de garimpeiros das terras yanomami e a adoção de medidas para combater a subnutrição infantil. Na oportunidade, a ONU já havia classificado a situação como uma grave crise humanitária.
A mesma denúncia, um mês antes, tinha sido gritada por relatório conjunto das comissões de Direitos Humanos (CDH) do Senado e da Câmara e da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, com base em diligência parlamentar a Roraima.
O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da CDH, esteve à frente da visita a Boa Vista, em maio de 2022, e recorda das dificuldades impostas pelo governo Bolsonaro ao deslocamento dos congressistas pelo estado e ao acesso a informações sobre o atendimento aos indígenas.
“A cada dia fica mais evidenciada a face sórdida do governo Bolsonaro no caso do povo yanomami. Está claro que havia um deliberado projeto de massacre dos indígenas, cujos resultados foram esses a que o Brasil e o mundo assistiram aterrorizados. Não há dúvida de que aquele governo da necropolítica é responsável pela máquina de genocídio montada para dizimar esses povos. As investigações estão apenas começando. E exigiremos a punição dos culpados”, cobrou o senador.