Coutinho: BNDES prevê investimento de R$ 3,8 trilhões entre 2013 e 2016

“Precisamos elevar os investimentos em
quatro pontos percentuais do PIB e isso
quer dizer algo em torno de R$ 164 bilhões”

A perspectiva de investimento na produção industrial, em obras de infraestrutura, em habitação, agricultura e serviços é que R$ 3,8 trilhões serão aplicados no período de 2013 a 2016, de acordo com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Segundo ele, o banco está reforçando a área de projetos financeiros (Project Finance) para estruturar grupos (consórcios) de empresas interessadas em diversas oportunidades existentes no Brasil, em todas as áreas. O BNDES, para levantar os recursos necessários para que esses projetos saiam do papel, irá incentivar o uso de um título chamado debêntures, que será lançado no mercado financeiro e deve contar com a participação ativa dos bancos privados. As debêntures – um título de dívida, de médio e longo prazo, que confere a seu detentor um direito de crédito contra a companhia emissora – podem ter seu rendimento atrelado ao potencial de retorno do empreendimento que está financiando, uma ótima alternativa de aplicação. “Precisamos elevar os investimentos em quatro pontos percentuais do PIB e isso quer dizer algo em torno de R$ 164 bilhões”, afirmou.

Coutinho participou, nesta quarta-feira (8), de audiência pública conjunta das comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Infraestrutura (CI). Nos debates que duraram mais de três horas e meia, conduzidos pelo presidente da CAE, Lindbergh Farias (PT-RJ), o presidente do BNDES abordou temas desde a estrutura do banco aos relacionados à atuação e o compromisso da instituição para o desenvolvimento econômico e social . “Nos interessa fortalecer a estrutura de capital dos agentes privados e para isso o banco está preparado para ajudar nesse esforço com as debêntures incentivadas”, disse ele.

Ele mostrou que as debêntures são bastante utilizadas por países como a Coréia do Sul, Estados Unidos, Japão, Chile e há um espaço considerável para crescer no Brasil, já que a proporção de captação de recursos em debêntures/PIB equivale hoje a somente 4%. A proporção na Coréia é de 37% e 35% nos Estados Unidos. “Queria sublinhar que o Brasil tem uma série de vantagens, gargalos reprimidos e uma grande demanda. Temos operadores logísticos competentes, por exemplo, especializados em operar rodovias pedagiadas e eles estão pensando em operar em todos os modais, funcionando como empresas de logística. Nesse processo de investimentos temos de mostrar que eles podem atuar como líderes de consórcios nos leilões, para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. E vamos oferecer os recursos de longo prazo”, destacou.

Internacionalização
Aos poucos o Brasil deve retomar uma forte estratégia de tornar as empresas brasileiras conhecidas e atuantes no mercado internacional, a chamada internacionalização. Hoje, a Embraer é uma dessas empresas e o banco pretende aumentar o apoio que já dá para as empresas com perfil exportador ao fortalecer a área internacional. “O BNDES apoia a internacionalização das empresas brasileiras, pois há um mérito e um valor importante nisso, pela possibilidade de desenvolver inovação e as marcas do País no exterior”, disse ele, ao citar que a história econômica registra alguns ciclos, com a internacionalização de empresas europeias na década de 1970; das japonesas na década de 1980; das coreanas na década de 1990; das empresas chinesas em 2000 e que agora é a vez das empresas indianas se espalharem pelo mundo.  “O Brasil como a quinta economia é natural projetar empresas de porte internacional, é uma faceta do amadurecimento da economia”, afirmou.

É por essa ótica que o BNDES continuará dando suporte financeiro às empresas brasileiras que atuam em projetos de infraestrutura em outros países. Na América Latina, o banco é parceiro de empresas que estão construindo os metrôs de Caracas e de Los Teques, na Venezuela, e em obras civis e na área siderúrgica. No Peru, financia as obras de captação e abastecimento de água (Bayovar) e na construção de um gasoduto (Camisea). Na Argentina, está presente no projeto de construção de estação de esgoto (Berazategui), abastecimento de água (Las Palmas) e na ampliação dos gasodutos TGS e TGN. No Uruguai, o projeto é a construção da rede de gás de Montevidéu (Punta del Tigre), em Cuba, na construção do Porto Mariel. Há projetos em andamento no Equador, Guatemala e na República Dominicana, sem falar dos países do continente africano. “As empresas brasileiras que atuam nesses países movimentam a economia local, porque os contratos preveem a compra de equipamentos de empresas sediadas aqui”, disse Coutinho.

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Sobre o desempenho da economia brasileira,
Lindbergh ouviu de Luciano Coutinho que
bons sinais estão sendo dados pelo volume
de investimento na linha de produção

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) observou que em recente viagem à África conferiu in loco a importância que o BNDES e as empresas brasileiras têm ao atuar nesses países. “Vi a empatia de como são recebidas essas empresas e é importante destacar o papel que podem desempenhar o BNDES e a Embrapa, por exemplo. É por isso que é uma falácia dizer que essa presença no exterior é para gerar empregos lá fora”, disse.

O presidente da CAE, Lindbergh Farias (PT-RJ), pediu que Coutinho traçasse sua visão sobre a economia internacional e como o Brasil se enquadra nesse cenário. O presidente do BNDES estima que a economia dos Estados Unidos crescerá 2% neste ano. A China deverá crescer entre 7,5% e 8%, mas esse desempenho deve ser olhado com cuidado, já que as encomendas podem forçar a alta dos preços das commodities e refletir por aqui. A economia japonesa, por sua vez, experimenta um processo agressivo de expansão monetária como estratégia para reaquecer a atividade produtiva. Já os países da Zona do Euro devem conviver mais um pouco com a estagnação, com os problemas (falta de empregos, por exemplo, e elevados déficits fiscais) sendo resolvidos com lentidão, mas nada que signifique um repique negativo.

No caso brasileiro, a economia deve se recuperar este ano e crescer 3,5%. Bons sinais estão sendo dados pelo volume de investimento na linha de produção. As empresas de bens de capital, as que fabricam máquinas e equipamentos, estão produzindo mais. Isso, na prática, quer dizer que as empresas estão financiamento a compra de equipamentos novos para melhorar a qualidade dos produtos.

Veja os principais números do BNDES:

BNDES é o maior provedor de crédito no Brasil, oferecendo dois terços do crédito de longo prazo

Tem 2.800 funcionários

O volume de ativos (bens) e empréstimos correspondem a R$ 715 bilhões. Em 2011, esse volume era de R$ 625 bilhões e, em 2002, correspondia a R$ 151 bilhões

Em 2012 o BNDES teve lucro líquido de 8,2 bilhões. O nível de inadimplência é de 0,14%. Bancos de desenvolvimento de outros países o percentual fica acima de 0,3%.

O total de projetos aprovados em 2012 representou R$ 260 bilhões. Em 2007, os projetos somaram R$ 99 bilhões

Para micro e pequenas empresas, o banco desembolsou em 2012 R$ 50,1 bilhões, distribuídos em 990 mil operações para 261 mil empreendedores.

Existem 574.266 cartões do BNDES habilitados, com o total de crédito concedido de R$ 32,4 bilhões. Os desembolsos entre janeiro e fevereiro deste ano alcançaram R$ 1,4 bilhão. O limite de crédito médio é de R$ 56.476,00 que podem ser utilizados na aquisição de 216.612 produtos cadastrados. Existem 48.509 fornecedores cadastrados.

Marcello Antunes

Confira apresentação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, na audiência conjunta da CAE e da CI

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