O jornalista Luiz Carlos Bordoni admitiu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira que recebia dinheiro “por fora” e que não recolheu impostos devidos. Segundo ele, o governador Marconi Perillo, do PSDB, fazia pagamentos com dinheiro arrecadado de caixa dois de campanha e teria mentido em seu depoimento à CPI mista. A partir daí, deputados federais tucanos, aliados de Perillo, passaram a constranger o depoente, chegando a ameaçá-lo de prisão, quando isso não cabe. A alegação dos parlamentares é de que os supostos “malfeitos” do depoente aparentemente justificariam quaisquer ataques, ainda que eles ferissem a Constituição ou o Código Penal.
A maior virulência contra o jornalista partiu do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), oriundo do Ministério Público de São Paulo, ao Bordoni confirmou ter sofrido a agressão, mas recusou-se a revelar as circunstâncias, alegando tratar-se de questão privada e sem relação com o objeto de investigação da CPI. “Não será o depoente e muito menos seu advogado que me dirão o que posso perguntar”, disparou um Sampaio irado.questionar Bordoni sobre uma agressão que teria sofrido. “O senhor já foi espancado e por quê?”, indagou Sampaio. O tucano alegou que o fato de ter sido vítima de espancamento ilustraria “o verdadeiro caráter” da testemunha.
O parlamentar tucano foi corrigido pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que lembrou ao colega que nada justifica uma agressão e que a vítima não pode ser responsabilizada por um ataque. Carlos Sampaio não desistiu e acusou o presidente em exercício da CPMI, Paulo Teixeira (PT-SP), que é advogado constitucionalista, de estar protegendo a testemunha. “A linha de objeto da CPMI tem como objeto uma organização criminosa. Assim, eu creio que a CPMI está cumprindo sua finalidade e nós vamos manter o aspecto democrático na sua condução”, rebateu Teixeira, que impugnou a pergunta de Sampaio porque entendeu que ela era descabida. “Mas não me sinto aqui cerceando o mandato de Vossa Excelência”, sintetizou, referindo-se ao deputado tucano.
Antes, outro tucano, o folclórico senador Mário Couto (PA), que não integra os quadros da CPMI, saiu da sessão aos berros, reclamando da condução dos trabalhos porque Paulo Teixeira pediu que ele respeitasse a testemunha. Em seu questionamento, também aos gritos, Couto perguntou a Bordoni por que ele, sabendo que o dinheiro que recebera por seu trabalho veio de fontes obscuras, não o devolvia. Mais cedo, Couto já havia qualificado a testemunha de “safado” e “vagabundo”, quando Bordoni desmentiu informações prestadas pelo governador Marconi Perillo em seu depoimento à CPI, em 12 de junho.
Falando a verdade
Mais cedo, durante o depoimento do jornalista, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder dos tucanos no Senado, chegou a perguntar a ele se era verdade que Bordoni diz ter sido abduzido por ETs, como publicado em um blog de Goiás. Irônico, o jornalista respondeu: “Sim, inclusive encontrei todas as pessoas que passaram informação ao senhor”. O plenário da CPI caiu na risada e Bordoni foi repreendido por Paulo Teixeira. Dias, entretanto, retrucou: ”Eu devo acreditar tanto nisso quanto nas outras histórias que ele contou”. Bordoni disse que o autor do blog é “afilhado” do Marconi. “Estão tentando desconstruir a minha imagem diante da opinião pública”, disse Bordoni, que se desculpou pela ironia.
Para o deputado Silvio Costa (PTB-PE), ficou claro que a oposição tentou desqualificar o depoente. Na avaliação de Costa, os depoimentos dos dois últimos dias foram muito “ruins” para Perillo. Na terça-feira (27/06), o arquiteto Alexandre Milhomem revelou ter sido contratado pela esposa de Carlinhos Cachoeira para decorar a casa que havia sido de Perillo E no dia de hoje, o jornalista informou que a campanha eleitoral do governador goiano contou com dinheiro da Alberto & Pantoja empresa fantasma do contraventor.
A conclusão de Sílvio Costa é que esses dois elementos mostram que Perillo pode ter mentido à CPI. “Eu tenho certeza absoluta que o senhor está falando à verdade, afinal o senhor aqui já se incriminou. Com que objetivo o senhor não estaria falando a verdade?”, indagou o deputado a Luis Carlos Bordoni, que não entrou com pedido de habeas corpus para ter o direito de ficar calado e ao depor revelou ter sonegado impostos no recebimento do dinheiro pago pelos seus serviços na campanha eleitoral de Perillo.
Giselle Chassot
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Foto 1: Agência Brasil
Foto 2: Agência Senado