A Polícia Federal (PF) bem que tentou. Nos dias 19 de agosto e 4 de outubro requereu da Procuradoria-Geral da República (PGR) cópia de dados produzidos pela CPI da Covid, que pediu o indiciamento de Bolsonaro por 10 crimes. Mas a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, negou o compartilhamento das informações. Para o senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI que funcionou entre abril e outubro do ano passado, está claro que a PGR tenta blindar Bolsonaro.
“A postura da PGR, diante desse caso, é absurda. Não é razoável que um órgão de investigação bloqueie o acesso de uma outra autoridade investigadora, como a PF, a dados que podem indicar o cometimento de crimes. É uma medida que se configura como uma espécie de blindagem dos responsáveis pela matança de 700 mil brasileiros vítimas da Covid-19, é um desrespeito ao trabalho da CPI, uma desconsideração às incontáveis provas que coletamos com o trabalho realizado”, acusou o também presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH).
O material, reunido em 10 terabytes, foi entregue em outubro do ano passado pelos senadores ao titular da PGR, Augusto Aras. Seis meses depois, em maio, a PF solicitou ao Senado acesso ao conteúdo, mas quando foi informada do paradeiro da documentação, passou a pedir compartilhamento à PGR. Investigadores reclamam o óbvio: cruzar as supostas provas com os fatos mencionados pela CPI. Ou seja, investigar.
Ao jornal Folha de S.Paulo, que publicou a denúncia, Lindôra Araújo disse que não pode compartilhar os dados porque pediu o arquivamento do caso. Isso, meses depois do pedido da PF. A alegação foi questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi vice-presidente da CPI.
“Estão escondendo o quê? Estão com medo de quê? A PGR trava há três meses o acesso da PF a dados da CPI da Covid em investigações sobre Bolsonaro. É vergonhoso ver uma instituição, que deveria ser independente, acobertando crimes. Mas reforço: a verdade vai aparecer!”, afirmou.
Até o momento, Lindôra Araújo se manifestou pelo arquivamento de 7 das 10 apurações preliminares contra Bolsonaro abertas a pedido da CPI. Entre outras, envolvem denúncias de charlatanismo, prevaricação, epidemia com resultado de morte e infração de medida sanitária preventiva. Falta, ainda, a decisão do relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso.
Entre os pedidos de indiciamento da CPI da Covid que aguardam movimentação está o que pode condenar Bolsonaro por incitação ao crime, uma vez que o ocupante do Planalto reiteradamente desestimulou a população a cumprir normas sanitárias de combate à propagação da doença. Entre 2020 e 2021, Bolsonaro incentivava aglomerações e condenava vacinas e o uso de máscaras, entre outras ações que, segundo a ciência, ajudaram o vírus a se espalhar e a vitimar, até o momento, mais de 685 mil brasileiros. Nada grave, segundo o despacho da 2ª na hierarquia da PGR ao STF. Para Lindôra, Bolsonaro só queria incentivar a fiscalização do uso de recursos públicos quando sugeriu que as pessoas saíssem de casa para filmar leitos nos hospitais de campanha na fase mais aguda da doença.