CPMI da Petrobras: oposição tenta, mas espetáculo não decola

Deputado trava senador histriônico do PSDB, lembrando doações de fornecedores da Petrobras para Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira

CPMI da Petrobras: oposição tenta, mas espetáculo não decola

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), primeiro
à esquerda, quer  “inquirição mais
virulenta”

O espetáculo pretendido pela oposição para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a Petrobras pode até ter sido muito bem ensaiado, mas, na primeira reunião de trabalho, na tarde desta segunda-feira (2), não conseguiu entrar em cartaz. Convocada para a aprovação do Plano de Trabalho proposto pelo relator, deputado Marco Maia (PT-RS), a reunião transcorreu de forma tranquila. Nem mesmo a estridência notória do senador Mário Couto (PSDB-PA) desafinava o tom geral do debate.

Primeiro,  Couto discordou de algo que não havia sido dito pelo relator Marco Maia.  Interpretou como “exclusão” dos depoimentos da presidenta da Petrobrás, Graça Foster, e de seu antecessor, José Sergio Gabrielli, quando, na verdade, o relator havia defendido que ambos haviam sido ouvidos recentemente por comissões permanentes da Câmara e do Senado, e ainda pela CPI do Senado, defendendo a tese de que deputados e senadores teriam  melhores condições de apurar, se ambos fossem ouvidos quando houvesse novas informações e dúvidas a serem esclarecidas. Foi a deixa para Couto protestar contra a suposta “exclusão” dos dois nomes na lista de testemunhas. A manobra não foi suficiente para criar o tumulto esperado, uma especialidade do senador tucano, quando, então, ele decidiu utilizar uma lista parcial de um grande jornal contendo senadores do PT e da base de governo como beneficiários de doadores de fornecedores da Petrobras. Ocorre, porém, que a lista, incompleta, tinha outros nomes.

Calmamente sem elevar a voz, o deputado Sibá Machado (PT-AC) protestou contra a discriminação pretendida por Couto, lembrando que os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também constam da lista, como posteriormente foi divulgada na íntegra. Nesse caso, os dois quadros ilustres do PSDB também estariam impedidos de participar da CPMI. “Dos R$ 9 milhões que Aloysio recebeu em doações de campanha, R$ 1,3 milhão vieram de fornecedores da Petrobras. Aécio recebeu R$ 1,09 milhão dessas empresas, do total de R$ 11 milhões de doações. O senhor vai me dizer que eles não podem participar desta CPMI?”, questionou o deputado petista, ante o surpreso Mario Conto. 

“Inquirição virulenta”
O clima pesado, porém, não desanuviou. O senador Álvaro Dias, outrora ferrenho entusiasta da CPI do Senado — ele integrou a comitiva de senadores que foi ao Supremo Tribunal Federal para garantir sua instalação — discordou de Maia, voltou à cobrar a convocação imediata de Foster e Gabrielli. Para ele, em frontal desrespeito aos colegas senadores e as próprios depoentes, a ida dos dois executivos à CPI original não valeu. “Aqui teremos condições de fazer uma inquirição mais virulenta”, confessou, com o tropeço no adjetivo que mais uma vez deixou clara a real intenção da oposição com a CPMI – a de gerar tumultos institucionais que causem repercussão na mídia.

Dias, lembra-se, foi uma das vozes oposicionistas a pregar que a CPI Mista “absorva” a CPI do Senado. O tucano, porém, não quer “absorver” o trabalho já realizado pela CPI original ao longo de um mês de oitivas de testemunhas e requisição de documentos.

Um palco para chamar de seu
O Plano de Trabalho proposto pelo relator Marco Maia deverá ser votado na próxima reunião da CPMI, marcada para esta terça-feira (3), às 14:15h. O roteiro contempla os quatro eixos de investigação que constam do requerimento de instalação da comissão. Além disso, Maia apresentou 121 requerimentos de informações, de convocação de testemunhas e de quebras de sigilos. O que mais desgostou a oposição, porém, foi a não inclusão na proposta das tão desejadas sub-relatorias, defendidas, na reunião de instalação do colegiado, pelo senador Aécio Neves. Essas sub-relatorias representariam o fracionamento das apurações — na prática, a criação de pelo menos quatro “CPIs filhotes” — o que seria muito bom para os que buscam um palco, mas que traria prejuízos sérios à visão geral do que se busca descobrir.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, falou com franqueza sobre a importância que enxerga no fracionamento da investigação, lembrando que essa seria uma maneira de garantir a alguns integrantes da oposição mais visibilidade durante os trabalhos. Mas a criação desses palcos para “stand-ups” simultâneos está, por hora, descartada pelo relator.

Cyntia Campos

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