A CPMI do Golpe marcou para esta quinta-feira (21/9) o depoimento do blogueiro golpista Wellington Macedo, um dos três condenados pela tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal de 2022.
Após ficar oito meses foragido, foi preso pela Polícia Nacional paraguaia na quinta-feira passada (14/9) e entregue no mesmo dia à Polícia Federal do Brasil. Mesmo escondido no país vizinho, foi condenado a seis anos de prisão, em regime inicial fechado, e multa de R$ 9,6 mil.
Assessor de Damares Alves no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Wellington se identifica como bolsonarista radical. Tanto é assim que acabou se juntando a George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues no que poderia ter sido o maior atentado da história do Brasil.
O plano dos três era que a explosão do caminhão no aeroporto gerasse caos social que justificasse a decretação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Com isso, esperavam que as Forças Armadas assumissem o controle do país e apoiassem um golpe que impedisse o presidente Lula de tomar posse.
A sorte foi que o motorista do caminhão, que transportava 63 mil litros de querosene, percebeu a presença da caixa com a bomba bem ao lado do veículo e acionou a polícia, que prendeu, horas depois, George Washington.
O terrorista confessou ter montado o artefato usando explosivos que já tinha e um detonador dado por um frequentador do acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília. George deu a bomba para o terrorista Alan Diego, que foi levado até o aeroporto de carro por Wellington Macedo. Alan já foi condenado a cinco anos e quatro meses de prisão, e George recebeu pena de nove anos e quatro meses.
Tão logo chegou à CPMI a notícia de que Wellington havia sido preso e trazido para o Brasil, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) anunciou que pediria sua convocação. No requerimento, Correia e outros membros da CPMI destacam ainda que o blogueiro é conhecido também pelo uso das redes sociais para espalhar denúncias sem provas que são alvo de inúmeros processos judiciais.
Reação a decisões de ministros “bolsonaristas” no STF
Os parlamentares que fazem parte da comissão parlamentar mista de inquérito esperam que o depoimento de Wellington ocorra sem interferiêcias da Justiça. Na terça-feira (19/9), liminar concedida pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), desobrigou o tenente Osmar Crivelatti, assessor de Jair Bolsonaro, de comparecer à audiência.
Na semana passada, o ministro Nunes Marques tomou decisão semelhante que beneficiou a ex-secretária de Inteligência do DF Marília Alencar. Ao julgar pedidos de convocados pela CPMI, outros ministros do Supremo autorizaram o silêncio dos depoentes diante de perguntas incriminadoras, mas obrigavam a presença deles nas oitivas.
Para Correia e outros membros da CPMI, não é coincidência que as decisões tenham vindo dois dois indicados por Jair Bolsonaro ao STF. “A CPMI é instrumento constitucional e não pode ser desmoralizada da forma como tentam fazer. O STF não pode ficar assistindo o que esses dois ministros, terrivelmente bolsonaristas, querem fazer, obstruindo o Congresso”, apontou o deputado.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil), bateu de frente com as liminares expedidas pela Suprema Corte que autorizam a falta de depoentes e anunciou que pedirá ao Congresso Nacional uma ação formal para questionar o STF sobre a decisão de André Mendonça por meio de uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF).
“Se um ministro do Supremo Tribunal Federal se acha com direito, com poder de dar uma liminar, autorizando alguém a não comparecer a CPMI e por conseguinte desmoralizando essa CPMI e tirando o poder dessa CPMI e esvaziando, obstruindo, obviamente que nós estamos na verdade brincando de fazer CPMI”, concluiu Maia.
Para a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, as liminares recentes de ministros do STF que desobrigam ida de depoentes à CPMI ferem de morte o parágrafo 3° do artigo 58 da Constituição, que “retiram (da CPMI) poderes próprios de investigação de autoridade judicial. Lamentáveis decisões e indevida interferência de poder sobre outro”, escreveu Eliziane no Twitter.