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CPMI fecha 2025 comprovando que esquema criminoso foi produzido no governo Bolsonaro

Na última reunião do ano, comissão aprovou convocação do governador de Minas, dono de financeira que oferecia créditos consignados aos aposentados

Alê Bastos

CPMI fecha 2025 comprovando que esquema criminoso foi produzido no governo Bolsonaro

Governador mineiro terá explicar atuação de financeira na farra dos consignados

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS encerrou seus trabalhos de 2025 nesta quinta-feira (4/12), consolidando um vasto corpo de evidências que atestam a criação e a expansão de um esquema de desvio de recursos bilionários de aposentados e pensionistas do INSS sob o amparo de decisões administrativas tomadas durante a gestão de Jair Bolsonaro.

As audiências demonstraram a atuação de um grupo de jovens empresários, ou pseudo-empresários, apelidados de “golden boys”. Estes indivíduos comandaram uma sofisticada operação baseada na criação de entidades de fachada com o objetivo de multiplicar descontos indevidos nos benefícios previdenciários.

Conforme já haviam demonstrado as investigações da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União, os dados de quebra de sigilo confirmaram que milhões foram transferidos de forma recorrente das contas das entidades para pessoas físicas e jurídicas diretamente relacionadas aos operadores centrais do esquema.

O elemento crucial que permitiu a fraude ganhar uma dimensão industrial foi a explosão de acordos de cooperação técnica (ACTs) firmados entre estas associações e o INSS. O processo de formalização e execução desses acordos se deu majoritariamente no período de 2019 a 2022.

A CPMI revelou que os ACTs prosperaram e foram assinados a despeito da existência de pareceres técnicos contrários de setores internos do próprio INSS, que alertavam para a fragilidade, falta de lastro e a possibilidade de falsificação nas fichas de filiação das entidades.

Apesar das advertências internas, os acordos avançaram com o aval de gestores com carreiras prestigiadas pelo governo Bolsonaro. O caso mais notório é o de José Carlos Oliveira, que, como Diretor de Benefícios do INSS, assinou diversos ACTs cruciais para o esquema. Oliveira, posteriormente, foi alçado ao cargo de Ministro da Previdência e do Trabalho no mesmo governo.

Outros agentes públicos também atuaram para manter a fraude. Jucimar Fonseca da Silva, coordenador de Pagamentos de Benefícios na Diretoria de Benefícios, foi exposto por ter emitido um parecer em dezembro de 2023 alegando ser desnecessária a análise detalhada das fichas de filiação à AMAR-Brasil, uma das principais entidades envolvidas.

As investigações não se limitaram à esfera administrativa. A CPMI expôs a ligação dos operadores do esquema com a cúpula política do governo anterior. Documentos da CPMI indicaram que um dos principais operadores da fraude, Felipe Macedo Gomes constava como doador de campanha do ex-ministro da Previdência Social, Onyx Lorenzoni. Além disso, o nome do filho de Onyx, Pietro Lorenzoni, também apareceu em documentos de outra associação envolvida no esquema, a Unibap, que firmou seu acordo em 2021, quando o ex-ministro era Secretário-Geral da Presidência da República.

Financeira Zema

Na última reunião do ano, foi aprovado requerimento para convocação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. A financeira de propriedade da família dele era uma das 11 instituições autorizadas pelo governo Bolsonaro a oferecer créditos consignados a aposentados, pensionistas e pessoas que recebem Benefício de Prestação Continuada.

O requerimento foi aprovado, apesar das tentativas de blindagem da oposição. “Não é possível ficar blindando pessoas que faziam desconto de BPC e de Auxílio Brasil em véspera de eleição. Foram R$ 9 bilhões. Quero saber quantos foram da Financeira Zema, lá em Minas Gerais, mas deve ter ficado próximo de R$1 bilhão, pelo menos. Ainda hoje 34% do que existe na financeira são de crédito consignado”, explicou o deputado Rogério Correia (PT-MG), autor do requerimento de convocação.

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